Vera Jardim apoia Assis e vê “zero” nas negociações à esquerda

O dirigente socialista e antigo ministro de Guterres diz que “as contas têm de bater certo” no possível acordo com PCP e BE e que não lhe agrada a subida de pensões anunciadas por Catarina Martins. “Solução Assis” é hipótese.

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Vera Jardim no Congresso do PS em 2011 Adriano Miranda

José Vera Jardim está incomodado com as últimas notícias sobre o consenso entre o PS, o BE e o PCP. O membro da Comissão Política do PS disse nesta segunda-feira não haver dados relevantes sobre o acordo à esquerda no espaço público e deixou críticas a Catarina Martins.

“O que existe em matéria de negociações, para mim, é nada, zero. Tenho visto pequenas notas que saem não sei de onde”. O advogado lamenta as declarações da líder do Bloco de Esquerda, que revelou já haver acordo para descongelar as pensões: “Obviamente que não me agrada que uma dirigente de um partido em negociações com o PS venha anunciar medidas, ainda por cima chamando a si os louros das ditas medidas. Não é um bom começo. Porque então vamos ter o cenário de uns partidos a dizer “esta [medida] fui eu que lá meti”, e depois aquilo que é antipático fica para o PS”.

No espaço de debate “Falar Claro”, da Rádio Renascença, o antigo ministro da Justiça avançou que a sua grande exigência para um consenso à esquerda é que as "contas batam certo”, mas que precisa de ver o acordo para poder emitir uma opinião definitiva. No entanto, diz entender a opinião de Francisco Assis, que considerou “impensável” e “erro histórico” a aproximação dos socialistas ao PCP e BE e convocou os opositores de António Costa para um encontro no próximo sábado, na Mealhada.

“Se me perguntasse se eu prefiro a solução Francisco Assis ou um acordo com que não concorde, sem dúvida nenhuma que preferia a solução Francisco Assis. Mas espero para ver o acordo. Tenho esperanças que satisfaça aquilo que eu digo que são, não os mínimos, mas aquilo que julgo correcto. Nesse caso, acho que não se correm perigos”, afirmou Vera Jardim. Se o acordo não for aceitável dirá que “não lhe agrada” e, depois, tirará as suas “conclusões”.

“Acho que as posições de Assis são mesmo muito úteis para o debate interno, porque mostram a vitalidade do PS, não só do Francisco Assis, mas das pessoas que o têm acompanhado”, ressalvou o dirigente. No entanto, Vera Jardim contestou o momento escolhido para a realização do encontro, já que a votação da moção de rejeição do programa do Governo PSD/CDS deve acontecer apenas três dias depois.

“O timing poderá não ter sido o melhor. Francisco Assis é que sabe gerir os seus próprios tempos. Eu preferia, para evitar confusões e acusações de divisionismo e coisas desse género que surgem sempre nos partidos – embora não sejam verdadeiras porque eu acho que as pessoas têm inteira liberdade. E tenho, com inteira liberdade, mostrado as minhas posições na comissão política. E são posições de alguma preocupação”, confessou Vera Jardim.

O dirigente socialista falou ainda de medidas “concretas” e “bem desenhadas”, além de uma “adesão a princípios”, que têm de ser assinadas pelos três partidos, sob pena de a coligação à esquerda quebrar com o surgimento dos primeiros problemas. “É difícil fazer um acordo para quatro anos nestas circunstâncias (…) em política, às vezes o que conta mais é o que não se estava a prever e acontece. E aí é que as coisas, às vezes, são mais difíceis (…) só a adesão a princípios é que pode facilitar a resolução do problema concreto que surge daqui a seis meses, nove meses ou um ano”, aconselhou Vera Jardim.

Alertou, ainda, que o PCP e o Bloco não vão “de repente” aderir ao Tratado Orçamental: “foi-nos assegurado várias vezes que a base seria o programa do PS, que se teria de cumprir os compromissos europeus”. Segundo Vera Jardim, o PS tem-se esforçado por flexibilizar os tratados europeus, incluindo o Tratado Orçamental, mas tais compromissos têm de acabar por ser cumpridos, “de uma maneira ou de outra.” Texto editado por Nuno Ribeiro.

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