O regresso de Emory Douglas e dos Panteras Negras

O poder das imagens no trabalho de um dos artistas gráficos que mais trabalharam pelos direitos da comunidade negra americana. Duas exposições e um documentário.

Poster de Emory Douglas, 1971
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Poster de Emory Douglas, 1971 Cortesia: Colecção de Alden Mary Kimbrough, Los Angeles
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Poster de Emory Douglas, 1971 Cortesia: Colecção de Alden Mary Kimbrough, Los Angeles
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Poster de Emory Douglas, 1972 Cortesia: Colecção de Alden Mary Kimbrough, Los Angeles

Olhar para estas ilustrações era como ler as notícias. Isto quando ler não era prática comum entre muitos dos seguidores do Partido dos Panteras Negras (Black Panther Party no original), organização de inspiração marxista que nos anos 1960 e 70 era uma peça incómoda na luta pelos direitos da comunidade negra norte-americana e que rapidamente foi rotulada pelo FBI como a maior ameaça interna à segurança dos Estados Unidos (a sua abordagem nada tinha a ver com os valores pacifistas do movimento encabeçado por Martin Luther King).

As ilustrações saíam das mãos – e da cabeça – de Emory Douglas, um cartoonista que actuava como ministro da Cultura do movimento e que publicava o seu trabalho semanalmente no jornal do partido, The Black Panther, que no auge dos Panteras era lido por 400 mil pessoas.

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Cortesia: Colecção de Alden Mary Kimbrough, Los Angeles

Douglas, hoje com 72 anos, é descrito por muitos como o maior agitador entre os artistas gráficos da América dos anos 1960 e 70 (o partido, no entanto, só seria descontinuado na década de 80). As suas ilustrações mostravam na maioria das vezes negros pobres, mas dispostos a lutar pelos seus direitos, mesmo que essa luta envolvesse armas . Entre os temas mais recorrentes dos seus cartoons de tons fortes e traços aparentemente simples, combinados para dar origem a uma linguagem ousada que chegava facilmente às pessoas, estão a violência policial e os abusos do imperialismo. Parece não haver qualquer intenção de subtileza na mensagem que passam.

O seu trabalho, que marcava também os poster e panfletos distribuídos pelo partido e que lhe valeu este ano a medalha de carreira do instituto americano de artes gráficas, pode ser agora visto num documentário e em duas exposições, no Sheldon Art Museum da Universidade de Nebraska-Lincoln e no Walker Art Center, em Mineápolis.

Foi a propósito do filme de Stanley Nelson, The Balck Panthers: Vanguard of the Revolution, que Emory Douglas falou ao Art Newspaper, a partir da sua casa em São Francisco. Através das imagens que criava, defendeu, a retórica estridente do partido chegava a um público mais alargado, já que “a grande maioria da comunidade negra não ia ler longos artigos”. “Quando via estas imagens”, explicou a esta publicação especializada, “ficava com uma ideia geral do que estava a acontecer através da própria arte”. Lá está – ilustrações que eram como notícias, cartoons que funcionavam como manifestos.

 

 

 

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