CDS propõe alternativa que rouba menos estacionamento ao eixo central

Assembleia Municipal de Lisboa abre as portas à população para debater novamente a requalificação do eixo entre o Marquês de Pombal e Entrecampos. Ao projecto da maioria na câmara junta-se agora o de um vereador da oposição.

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Câmara de Lisboa quer redesenhar a Praça do Saldanha, devolvendo espaço aos peões e introduzindo mais árvores. Carros, só mesmo de passagem Joana Freitas/Arquivo

O vereador do CDS-PP na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, vai apresentar nesta segunda-feira um projecto para o chamado “eixo central”, alternativo ao da maioria presidida por Fernando Medina (PS). A proposta dos centristas prevê a construção de apenas uma ciclovia para os dois sentidos, passeios não tão largos e lugares de estacionamento em espinha, bem como a construção de um desnivelamento na zona do Saldanha, em vez de um túnel em Entrecampos.

Esta solução procura responder à questão que mais tem inflamado a discussão em torno do projecto camarário para a "regeneração" do eixo entre o Marquês de Pombal e Entrecampos: a perda de lugares de estacionamento. O projecto do CDS, que Gonçalves Pereira define como “mais equilibrado” do que o que está em cima da mesa, será apresentado no debate público “Eixo central de Lisboa” marcado para esta tarde, às 18h, na assembleia municipal.

O vereador, que garante ter contado "um a um" os lugares disponíveis ao longo de 2,5 quilómetros, diz que o projecto de Medina vai fazer desaparecer mais de 600 lugares de estacionamento na via pública, deixando apenas 204 - e não 319, como tem afirmado o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. A eliminação de lugares resulta essencialmente do alargamento do espaço público pedonal, com a supressão de uma via em cada faixa lateral da Av. da República e a reconfiguração do Saldanha. Salgado já disse que o projecto "não é irreversível" e que está "a negociar com os proprietários" dos parques de estacionamento público da zona a criação de "avenças que sejam compatíveis", mas o CDS não acredita numa solução viável.

"Não pode haver uma redução tão significativa, sob pena de prejudicar os moradores e de levar as empresas sediadas na zona a sair", defende Gonçalves Pereira, propondo uma intervenção que responda tanto às necessidades dos peões e ciclistas como à dos automobilistas. Com a sua proposta, o vereador do CDS quer manter 460 lugares: 50 na Av. Fontes Pereira de Melo e no Saldanha, 370 na Av. da República e 40 em Entrecampos. Como? Por um lado, optando pelo estacionamento em espinha, em vez do longitudinal. Por outro lado, construindo apenas uma ciclovia com dois sentidos, num dos lados das avenidas, em vez de duas no mesmo sentido dos carros. “É um excesso ter uma ciclovia de cada lado.”

Também os passeios são mais curtos na proposta centrista: em vez dos 10 metros propostos por Medina, o CDS entende que é suficiente ter passeios de 8,5 metros (no lado sem pista ciclável) e de 6 metros (no passeio onde for construída a ciclovia). Gonçalves Pereira mantém as árvores no separador central (que será mais estreito do que o proposto pela maioria), para poder dar um pouco mais de espaço aos carros: propõe vias com três metros de largura, em vez de 2,75 metros. “Os carros têm de poder circular nas faixas centrais, para que o fluxo que entra em Lisboa a partir de vias como a A5 ou a Segunda Circular não fique estrangulado”, explica o vereador, sublinhando que é "utopia" pensar que as pessoas vão abandonar o carro.

A obra do "eixo central" - para a qual a câmara já aprovou, com o voto contra do CDS, o lançamento do concurso da empreitada no valor de 9,4 milhões de euros (mais IVA), mesmo antes de divulgar os estudos urbano e de tráfego para aquela zona -, está inserida no programa Uma Praça em Cada Bairro e deverá estar pronta em 2017. A ideia é dar à Praça do Saldanha mais espaço verde e pedonal, sem estacionamento; redesenhar a zona de Picoas; e reordenar a Av. Fontes Pereira de Melo e a Av. da República até ao cruzamento com a Av. Elias Garcia. No troço entre Campo Pequeno e Entrecampos, para o qual está prevista a construção de um túnel, a obra não avança para já, até porque se cruza com os projectos para o terreno da Feira Popular, que a autarquia ainda não conseguiu vender.

Gonçalves Pereira considera que, mais do que um túnel em Entrecampos, faz falta um desnivelamento desde a zona em frente à sede da PT, em Picoas, até à frente do restaurante Galeto, na Av. da República. O vereador entende que as alterações previstas para o Saldanha vão "congestionar" o tráfego e que aquele desnivelamento é a única forma de o evitar. O CDS não tem um valor definido para as intervenções mas acredita que será "idêntico" ao que custa o projecto da maioria.

No debate público marcado para esta tarde na sede da AML, situada na Avenida de Roma, vão estar presentes o vereador do Urbanismo e o presidente da câmara, bem como membros das associações de moradores das Avenidas Novas e de Entrecampos. No Facebook foi criado o evento "Vamos apoiar a requalificação das avenidas lisboetas", a favor do projecto da maioria, que no sábado tinha mais de 170 aderentes. O executivo tem 15 minutos para apresentar a sua proposta, seguindo-se as intervenções do público e das forças políticas com representação na assembleia, incluindo o CDS.

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