Os relógios atrasam uma hora no domingo. Mas porquê?
Foi há cerca de cem anos que se decidiu aplicar um horário diferente no Inverno e no Verão.
No próximo domingo, 25 de Outubro, tem início o horário de Inverno. Assim, deverá atrasar os seus relógios 60 minutos às 2h da madrugada de domingo, passando para a 1h. Na Região Autónoma dos Açores, a mudança é feita à 1h da madrugada de domingo, passando os ponteiros a marcar meia-noite.
“A génese está relacionada com a poupança de energia, mas hoje já não há grandes poupanças, trata-se de uma questão de comodidade”, afirma o director do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), Rui Agostinho, acrescentando que “as pessoas reajustam a sua actividade à hora do Sol mesmo que o relógio marque uma hora diferente”. Ganha-se uma hora de sono e diz-nos o director do OAL que o nosso corpo precisa de cerca de um dia para se reajustar, mas “cada caso é um caso”.
Esta medida surgiu “na altura da Primeira Guerra Mundial, numa época em que o consumo energético teve de ser redireccionado para o consumo de guerra e a população civil sentiu restrições no aquecimento e na iluminação”, refere o director do OAL – Daylight Saving Time é o nome original atribuído a esta mudança de horário. Entre as pessoas que sugeriram esta mudança de horário estão Benjamin Franklin, nos EUA, William Willett, no Reino Unido, e George Vernon, na Nova Zelândia. A medida era aplicada de forma a poder poupar carvão, velas e ajustar os horários de forma a conseguir obter mais luz solar e mais temperatura.
“É uma escolha civil que a sociedade acha benéfica”, afirma Rui Agostinho, explicando que antes da União Europeia cada país tinha autonomia para escolher se mudava a hora e quando o fazia, o que gerava alguns problemas de logística. Assim, criou-se uma legislação europeia, reavaliada de cinco em cinco anos, de modo a “harmonizar” este problema, fazendo com que todos os países sejam obrigados a mudar a sua hora “no mesmo dia e no mesmo instante”. Na Europa só a Arménia, a Bielorrússia, a Geórgia e a Rússia não alteram a sua hora.
A não ser por “questões emocionais britânicas”, brinca Rui Agostinho, a GMT (tempo médio de Greenwich) já não existe. O fuso de horário de referência é o UTC – o tempo universal coordenado – que corresponde à hora atómica, isto é, à média dos relógios atómicos. Apesar de a hora mudar em certos países, a hora UTC mantém o seu batimento constante, ao contrário “da hora local civil que parte de questões políticas”, diz Rui Agostinho.
O meridiano de Greenwich – uma linha imaginária vertical que se estende de um pólo ao outro do planeta – é, por convenção, aquele em que a longitude corresponde a zero, dividindo o globo terrestre em oriente e ocidente. Esta escolha esteve relacionada com o “maior tráfego de mercadorias em Inglaterra na altura [1884] e à utilização dos almanaques náuticos do Observatório Real de Greenwich”, refere Rui Agostinho. Observa que, apesar de se ter deixado de usar a GMT e passado a usar a hora atómica, o meridiano de referência continuou a ser o mesmo.
São mais os países que não alteram a sua hora do que aqueles que o fazem. O director do OAL refere que o “ajustamento é mais sentido de acordo com a latitude em que se está”, razão pela qual nas bandas equatoriais não existe diferença na mudança de horário.
A próxima mudança de horário será feita daqui a cinco meses, no último domingo de Março de 2016, dia 27.
Texto editado por Hugo Daniel Sousa