Consumo de alheiras de Mirandela e de fumeiro regional caiu entre 75 a 80%
Caso da marca "Origem Transmontana" foi "episódico" e está "perfeitamente encerrado", garante secretário de Estado da Alimentação, que nunca deixou de comer alheiras
A crise que afectou as alheiras de Mirandela e o fumeiro regional transmontano, depois da divulgação de vários casos de botulismo alimentar, provocou quebras no consumo "da ordem dos 75 a 80%", lamenta o secretário de Estado da Alimentação e Investigação Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito, que sexta-feira vai aproveitar o primeiro dia da feira da castanha e mel de Vinhais (Bragança) para “tranquilizar” os consumidores, provando alheiras. Também o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde vai estar presente na inauguração desta feira.
Levando em conta apenas as alheiras de Mirandela, a perspectiva de negócio "ronda os 30 milhões de euros" anuais e o número de empregos ascende a cerca de seis centenas postos de trabalho, especifica o Vieira e Brito, em declarações ao PÚBLICO. Se atendermos às exportações de fumeiro, os valores sobem já para 100 milhões de euros, diz.
O caso do produtor da marca “Origem Transmontana” - a cujos produtos estão associados os cinco casos de botulismo detectados em Setembro – foi “episódico, circunscrito e já está perfeitamente encerrado”, garante. Em causa está apenas uma empresa (designada “Verdade Transmontana”) que vendeu produtos com a marca comercial “Origem Transmontana”, nome que “confundiu profundamente os consumidores” e veio chamar a atenção para a necessidade de a informação dever ser “mais clara e esclarecedora”, enfatiza o secretário de Estado.
Logo após a detecção dos casos de botulismo, a empresa recebeu ordem de suspensão "no que respeita à transformação de produtos", e cabe agora ao Ministério Público avaliar se existe ou não matéria legal para avançar com um processo judicial, acrescenta. A partir das análises efectuadas, também foi suspensa a actividade de outra empresa, ainda que esta medida não esteja relacionada com o botulismo. A estratégia, agora, passa pela promoção da formação dos produtores artesanais em boas práticas e higiene, porque o grau de segurança dos produtores industriais já é muito elevado, acentua.
Sobre a iniciativa do director-geral da Saúde, Francisco George, que aceitou ir esta quinta-feira a Mirandela degustar uma alheira para provar que o risco é nulo, Vieira e Brito comenta que “todas as acções que promovam o consumo dos produtos tradicionais portugueses são importantes” mas frisa que “não há risco zero”. Nota, aliás, que nunca deixou de comer alheiras. “Gosto imenso”, admite.
Depois de as entidades com competência para o efeito - a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária - terem promovido “ intensas acções de fiscalização e controlo” e procedido à “rastreabilidade” de todos os produtores onde a empresa em causa disse ter comprado produtos, Nuno Vieira e Brito defende mesmo que “hoje é mais seguro comer alheiras do que era anteriormente a este processo”. De resto, acredita, a confiança dos consumidores irá sendo retomada “gradualmente”, à semelhança do que aconteceu noutras crises semelhantes.
Quanto à forma como a comunicação foi feita aos cidadãos – através de um comunicado conjunto emitido em Setembro pelas direcções-gerais da Saúde e da Alimentação e Veterinária, a ASAE e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, dando conta dos casos de botulismo associados a produtos desta marca –, o governante defende que ”não se deve deixar de comunicar ao consumidor “, mas considera que, “eventualmente, poder-se-ia ter sido mais preciso no sentido de ser mais notório” que estava apenas em causa uma empresa.