Mallarmé, o poeta da biblioteca que valia 4,5 milhões de euros
Venda em Paris incluiu manuscritos, originais do autor francês, cartas e fotografias.
Quando o poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé morreu, em 1898, tinha apenas 56 anos e a sua biblioteca foi confiada a Geneviève (1864-1919), a filha-cúmplice com quem discutia literatura e ia ao teatro, que a manteve intacta. Manuscritos de originais do poeta, cópias que fez de obras de outros autores que lhe eram próximos, como Charles Baudelaire e Edgar Allan Poe, cartas, fotografias e livros. Ao todo, e de acordo com a organização imposta pela Sotheby’s, a leiloeira encarregue de a vender, a biblioteca de Mallarmé foi dividida em 283 lotes que renderam em Paris, na quinta-feira à noite, altura em que foi à praça, quase 4,5 milhões de euros.
Entre os lotes vendidos – 89% do total, sendo que desses, segundo a Sotheby’s, 98% trocaram de mãos pelo valor estimado ou acima – encontravam-se, por exemplo, cartas trocadas com outros simbolistas franceses, como Paul Valéry, André Gide e Paul Verlaine, e algumas das que enviou ao escritor de origem irlandesa Oscar Wilde, e aos pintores Édouard Manet e Berthe Morisot, uma das suas maiores amigas e confidentes.
Segundo a leiloeira, a peça mais valiosa do leilão – arrematada por quase um milhão de euros - foi o manuscrito de 24 páginas de Un coup de dés jamais n’abolira le hasard (qualquer coisa como "Um lance de dados jamais abolirá o acaso"), considerado o primeiro poema a explorar as possibilidades que a tipografia oferecia, publicado na revista Cosmopolis um ano antes da morte deste poeta que era também crítico literário.
Entre os lotes que suscitaram mais disputa estiveram, por exemplo, uma cópia que fez da obra maior de Baudelaire, As Flores do Mal (vendida por 363 mil euros), a sua tradução de O Corvo, de Poe, ilustrada com litografias de Manet (comprada à cabeça pela Biblioteca Nacional de França por 195 mil euros), e uma fotografia que junta Mallarmé e Renoir, tirada por Edgar Degas (204.600 euros).
Alguns dos compradores levaram também para casa livros que Mallarmé recebeu de contemporâneos ilustres, como Verlaine, Gide e Émile Zola.