Grupo Volkswagen mantém investimento na Autoeuropa
Ministério da Economia recebeu por telefone a garantia da administração do grupo alemão. Não se sabe ao certo qual o montante que já foi aplicado desde que a empresa assinou contrato com o Estado, em 2014
O Grupo Volkswagen vai manter o plano de investimento de 677 milhões de euros na fábrica Autoeuropa, em Palmela. A unidade de produção não será, assim, directamente afectada pelos cortes que foram anunciados pela multinacional na sequência da crise da fraude das emissões.
Depois de semanas em que pairaram algumas dúvidas sobre a continuidade do investimento contratualizado entre o Estado e a empresa alemã, o Governo recebeu esta sexta-feira a confirmação de que a execução do investimento vai seguir até 2019, tal como planeado. A garantia foi dada numa conversa telefónica entre o ministro da Economia, António Pires de Lima, e o executivo da empresa Herbert Diess, membro da administração do grupo.
Um comunicado daquele ministério acrescenta ainda que “a nova unidade de produção entrará em laboração até 2018, com um nível de actividade previsivelmente igual ou superior ao que foi contratualizado com a AICEP [a agência estatal para captação de investimento estrangeiro]”.
O investimento está em curso e o PÚBLICO procurou saber junto da Autoeuropa e do Ministério da Economia qual o montante que já foi aplicado desde a celebração do contrato, em Março de 2014. A fábrica afirmou que essa informação não é pública, ao passo que o ministério remeteu para a AICEP, que não respondeu aos pedidos de esclarecimento. O investimento que está a ser feito integra contrapartidas estatais no valor aproximado de 36 milhões de euros, que estão a ser alvo do escrutínio da Comissão Europeia.
Embora não houvesse até aqui uma garantia oficial, o Governo já dissera não ter quaisquer sinais de que os cortes no grupo se fariam sentir na Autoeuropa, que emprega cerca de 3500 pessoas e é uma das principais empresas exportadoras do país, para além de ser um cliente importante para uma rede alargada de fornecedores. Nesta semana, a Volkswagen anunciou que iria reduzir o seu plano global de investimento em mil milhões de euros anuais, sem ter especificado onde vai fazer os cortes, que são uma fatia pequena dos quase 86 mil milhões de euros que a empresa previa investir entre 2015 e 2019.
A Autoeuropa poderá, contudo, vir a ressentir-se de eventuais impactos negativos nas vendas dos carros do grupo. O escândalo rebentou no dia 18 de Setembro e ainda é cedo para avaliar o impacto nas preferências dos consumidores. Em Portugal, as vendas do grupo continuaram a crescer no mês passado. A nível europeu, números divulgados nesta sexta-feira pela Associação Europeia de Fabricantes Automóveis indicam que as matrículas de carros de passageiros do grupo alemão cresceram 8,4% no mês passado, abaixo dos 9,8% que foram a média do sector. Na União Europeia, o grupo conseguiu uma fatia de 23,3% do mercado, apenas quatro décimas abaixo do mesmo período de 2014.
O Ministério da Economia recebeu também informações sobre o calendário que o Grupo Volkswagen delineou para resolver o problema dos sistemas fraudulentos instalados nos motores diesel. “Previsivelmente, as [viaturas] que carecem de modificações ao nível do software deverão estar solucionadas até ao final do primeiro trimestre de 2016 e as que necessitam de intervenções mais complexas, até Dezembro do mesmo ano”, detalhou o ministério, em comunicado.
Depois do assentimento da autoridade alemã que regula os transportes motorizados – e que exigiu entretanto à empresa mais detalhes sobre as soluções técnicas para reparar os motores –, o plano de recolha dos carros às oficinas está a ser entregue às autoridades de vários países. Na União Europeia, terão de ser reparados cerca de 8,5 milhões de carros das marcas Volkswagen, Audi, Skoda e Seat, dos quais 117 mil estão em Portugal. Os proprietários dos veículos podem verificar nos sites das marcas se têm um carro afectado. Desde o início da crise que o grupo alemão assegura que as reparações não terão quaisquer custos para os clientes.