E agora, Bloco?

Uma das questões que se coloca, se o PS aceitar as condições e tendo em conta a abertura já demonstrada pelo PCP, é saber como vai o BE posicionar-se relação a temas como o Tratado Orçamental ou a renegociação da dívida. A aproximação ao PS não será um assunto pacífico dentro do BE.

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Catarina Martins Nuno Ferreira Santos

Para a eurodeputada do BE Marisa Matias, que gostaria que o processo de negociações decorresse “com o menor ruído possível”, uma solução entre PS, PCP e BE é “realista”. O deputado bloquista eleito por Lisboa Jorge Costa acrescenta: “[O líder socialista] António Costa só não governará se não quiser.”

Os dois bloquistas defendem que uma solução à esquerda respeita os três milhões de eleitores que votaram nas propostas da oposição e contra a continuidade das políticas do Governo. “Se houver vontade política, tudo é possível”, diz Marisa Matias, acrescentando que, depois da disponibilidade demonstrada pelo PCP, resta aguardar pela posição do PS.

Também para Jorge Costa, é “uma questão de vontade” chegar a uma solução que “impeça a minoria de direita parlamentar de formar Governo”. O que não deveria ser possível era “uma direita em minoria formar governo”, diz Jorge Costa, sublinhando ser “evidente” a disponibilidade do PCP e do BE para que tal não aconteça. Saber, porém, se a negociação “chega a bom a bom porto”, ainda “está para se ver”, ressalva.

Em declarações ao Observador, Luís Fazenda, membro da corrente Esquerda Alternativa e ex-dirigente da UDP, disse, porém, que “não se está a falar de nenhuma coligação de Governo, nem de responsabilidades governativas”: “Estamos a falar de um governo minoritário de esquerda ou de um governo minoritário de direita”, declarou, reafirmando, no entanto, que o BE pode viabilizar um Governo do PS. “Nada impede o PS de formar Governo, não será pelos partidos à sua esquerda que isso não acontece.”

Apesar de a porta-voz do BE Catarina Martins ter falado na disponibilidade para uma solução de Governo que “salve” o país, impondo sempre três condições, a aproximação ao PS não será um assunto pacífico dentro do BE.

As três condições do BE passam por não aceitar a redução da Taxa Social Única; das pensões, por via do corte ou do congelamento; nem a facilitação dos despedimentos.

Uma das questões que se colocam, se o PS aceitar as condições e tendo em conta a abertura do PCP, é saber como vai o BE posicionar-se relação a temas como o Tratado Orçamental ou a renegociação da dívida. Vão ceder ou impor novas condições?

Durante a campanha, o BE deixou a porta entreaberta para ceder noutros pontos: “Não disse que as condições são o nosso programa todo”, afirmou Catarina Martins. Ao PÚBLICO, já tinha dito: “Uma negociação é uma negociação”.

Embora não incluindo a dívida nas três condições, o BE defende-a. À margem de uma acção de campanha, questionada acerca da dívida, Catarina Martins explicou que, se Portugal conseguisse uma negociação da dívida, pagando menos juros, estaria em condições de proteger “as pensões, o emprego, e o salário”.

A reunião com o PS foi adiada para segunda-feira, a pedido do BE e com a justificação de que tal permitiria “melhor preparação técnica” e “compatibilizar a presença” dos elementos da delegação. Mas o facto de terem adiado o encontro para depois daquele que vai acontecer entre o líder socialista e o presidente do PSD poderá significar que querem ganhar tempo e ver o que acontece entre o PS e a direita.

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