Lisboa

O que dizem de nós os filmes de família dos outros

Baptizados, casamentos, férias na praia, aniversários, passeios na neve, viagens de carro, visitas à aldeia, passeios no parque. O que há para além do banal das imagens em movimento, presas em filmes de família? O Arquivo Municipal de Lisboa-Videoteca mergulhou nos filmes que foi reunindo ao longo dos anos e arranca este ano com a primeira edição da Mostra de Filmes de Arquivos Familiares. Chamaram-lhe Traça: de um lado o bicho que consome objectos esquecidos e do outro a linha que une uma memória comum.

Inspirada em iniciativas que por toda a Europa tentam resgatar as memórias perdidas em filmes amadores, a Videoteca vai mostrar no fim-de-semana de 10 e 11 de Outubro, no Bairro do Castelo, em Lisboa, filmes de família que se cruzam com a história da cidade (e de todo o país). Num bairro angustiado com a saída dos velhos moradores e pressionado pelo número crescente de turistas, Inês Sapeta Dias e Fátima Tomé, responsáveis pela Mostra, tentaram também encontrar os filmes de família do Castelo, da vida de um bairro típico lisboeta. A tarefa foi quase impossível: poucos tinham posses para ter em casa uma câmara de filmar. Além disso, muitos dos registos - mesmo que fotográficos - da vida do bairro nas últimas décadas foi desaparecendo à medida que as obras foram tomando conta das casas mais antigas.

Ainda assim, a Mostra vai ocupar o Bairro do Castelo, passando pelo Grupo Desportivo e pela Associação Mora Lá castelo. No nº22 da Rua do Recolhimento, uma casa desocupada estará aberta para exibir sete filmes de sete realizadores que a partir de filmes de família criaram novas obras. Entre oficinas de projecção, performances e instalações, haverá ainda espaço para ouvir Víctor Sarabia falar de projectos à volta dos arquivos familiares que têm desenvolvido na  Filmoteca de Extremadura e na Red de Cine Doméstico, em Espanha.