Insecto sugador de pinhas reduz produção nacional de pinhão a metade

Leptoglossus occidentalis, insecto semelhante a um grilo, suga o miolo da pinha. Autoridades nacionais assinaram em Alcácer do Sal uma parceria para avaliar os danos e definir o plano de combate à praga.

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Daniel Rocha
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Segundo o presidente da Associação dos Industriais de Miolo de Pinhão (AIMP), antes da chegada da praga a território português, há cerca de cinco anos, depois de estar já declarada noutros países mediterrânicos como Espanha e Itália, a indústria nacional de descasque do pinhão trabalhava 120 mil toneladas de pinhas por ano e produzia cerca de 4 mil toneladas. A produção de miolo de pinhão que, em mais de 90 por cento, destinava-se à exportação para países como a Itália, Estados Unidos da América ou Alemanha, chegou a valer aproximadamente 160 milhões de euros por ano.

Actualmente a produção de pinhão descascado fica-se por menos de metade, porque o miolo extraído de cada pinha sofreu uma redução substancial.

“Antigamente, de 100 quilo de pinhas retirávamos quatro quilos de pinhão e agora, dos mesmos cem quilos de pinhas obtemos somente 1,2 ou 1,3 quilos de miolo”, disse ao PÚBLICO Hélio Cecílio, industrial do sector e presidente da AIMP.

A restante quantidade de miolo é consumida pelo Leptoglossus occidentalis. O insecto, com uma grande capacidade reprodutiva, tem um lábio sugador, injecta um líquido ácido para o interior do pinhão e consegue depois chupar os nutrientes do miolo.

“Só sabemos que pinhas estão afectadas quando as abrimos na fábrica”, diz Paulo Lopes, representante da Preparadora de Pinhão, uma das indústrias de descasque a operar em Portugal. E acrescenta: “Nós, os fabricantes, pedimos às autoridades nacionais competentes para tomarem as medidas necessárias à erradicação da praga, urgentemente, mas os resultados têm sido muito lentos”.

Além de rendimento, a indústria queixa-se de estar a perder mercado por falta de competitividade. “Agora temos muito mais custos para produzir muito menos e, como o pinhão nacional escasseia, o preço sobe”, explica Hélio Cecílio, concluindo que a situação “é má, para a fileira do pinhão, que concorre com produtos da China e do Paquistão sem qualidade e de higiene duvidosa, sem sabor, que chegam ao mercado a preços muito mais baixos”.

O problema é conhecido das entidades competentes, que assinaram esta semana, em Alcácer do Sal – concelho que acolhe o recentemente criado Centro de Competência do Pinheiro Manso e Pinhão (CCPMP) -, um protocolo de cooperação para avaliação dos danos e adopção de medidas de controlo da praga.

O Instituto Nacional e Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Direcção Geral de Alimentação Veterinária (DGAV), o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa (ISA) e a União da Floresta Mediterrânica (UNAC), com a colaboração dos industriais do sector e do Município de Alcácer do Sal, comprometem-se a trabalhar em conjunto para “quantificar os danos causados pelo Leptoglossus occidentalis no território continental” e a elaborar o “plano de acção nacional de controlo” da praga.  

Objectivos fixados no documento em que as seis entidades reconhecem “a necessidade de implementar no terreno uma estratégia para a monitorização e o controlo urgente das populações” deste insecto.

De acordo com o protocolo assinado, o plano nacional a adoptar passará por sensibilização e informação de proprietários e produtores florestais, controlo da praga através de luta química e luta biológica, medidas de apoio, incluindo financeiro, ao sector, e pela investigação científica do fenómeno.

O pinheiro manso ocupa em Portugal uma área total de 176 mil hectares, sendo a espécie florestal que mais cresceu desde o inventário florestal nacional de 2005, com um incremento de 54%. Representa já cerca de seis por cento da floresta de todo o país.

Urgência na acção
A necessidade de medidas práticas urgentes, no combate à praga, é reconhecida por todas as entidades ligadas à problemática e sublinhada, também pelos responsáveis políticos.

O secretário de Estado Secretário de Estado da Alimentação e Segurança Alimentar, Nuno Vieira de Brito, que esteve presente na cerimónia de assinatura do protocolo de parceria, pediu celeridade a todas as partes envolvidas.

“É importante que cheguemos a resultados rapidamente e que esses resultados se reflictam para o produtor”, afirmou o governante, para quem o facto de “o protocolo ter validade de um ano significa que todos vão tentar resolver o problema num curto período de tempo”.

Vieira de Brito chamou a atenção para a existência de linhas de financiamento público disponíveis, no âmbito do programa comunitário Portugal 2020, e pediu aos responsáveis das instituições envolvidas que “dêem tudo, mesmo tudo, para que se consiga, no tempo mais curto possível”, combater a praga. 

O presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, que tem sido um dos principais impulsionadores das iniciativas mais recentes no domínio da pinha e do pinhão – como a criação do CCPMP e assinatura do protocolo – pediu também rapidez na adopção de medidas práticas na luta contra o insecto.

“São necessários estudos, análises e investigação, mas é preciso também acção. Só observação não chega”, avisou Vítor Proença.

O autarca salientou a importância da fileira do pinhão para Alcácer do Sal, o vale do Sado - o Alentejo é a origem de 67% das pinhas produzidas em Portugal e de 15% das que são produzidas em todo o mundo -, e para a economia nacional.

Vítor Proença recordou ainda que já foi entregue à tutela, em Junho passado, o pedido de classificação do “Pinhão de Alcácer do Sal” como Denominação de Origem Protegida (DOP).

A Denominação de Origem Protegida (DOP) é a classificação comunitária de um produto cuja produção, transformação e elaboração ocorrem numa área geográfica delimitada, com um saber fazer reconhecido e verificado. O registo de DOP proíbe imitações, concorrência desleal e usos indevidos dos produtos ou marcas.

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