Sauditas apreendem barco iraniano com munições que iam para o Iémen

Duas potências regionais trocam acusações por causa do desastre de Meca e dos bombardeamentos contra milícias Houthi

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Manifestação em Teerão frente à embaixada da Arábia Saudita, em protesto contra o atraso na devolução dos iranianos mortos no hajj Raheb Homavandi/REUTERS

Embora Teerão sempre tenha negado apoiar as milícias da tribo Houthi, estes são xiitas, tal como os iranianos. A Arábia Saudita, e os outros países do Golfo Pérsico, são maioritariamente sunitas. Iniciaram uma campanha de bombardeamentos há mais de seis meses com o objectivo de repor o governo do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, deposto quando os Houthi tomaram a capital.

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Embora Teerão sempre tenha negado apoiar as milícias da tribo Houthi, estes são xiitas, tal como os iranianos. A Arábia Saudita, e os outros países do Golfo Pérsico, são maioritariamente sunitas. Iniciaram uma campanha de bombardeamentos há mais de seis meses com o objectivo de repor o governo do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, deposto quando os Houthi tomaram a capital.

As monarquias do Golfo justificam ainda a sua acção no Iémen afirmando quererem impedir a formação de uma guerrilha poderosa financiada pelo Irão, como aconteceu com o Hezbollah no Líbano.

A apreensão do barco de pesca iraniana foi feita no sábado, mas só foi divulgada esta quarta-feira. A coligação árabe diz, em comunicado, que foram detidos 14 marinheiros iranianos, e que a embarcação transportava 18 morteiros anti-veículos blindados, 54 granadas anti-tanques, kits de baterias para munições e sistemas de orientações de munições. “O Comando da Coligação frustrou uma tentativa de contrabandear armas destinadas às milícias Houthi num barco de pesca iraniano”, diz o comunicado, citado pela Reuters.

Em Abril, o Conselho de Segurança da ONU adoptou uma resolução que impõe um embargo ao fornecimento de armas às forças revoltosas do Iémen. O Irão não fez qualquer comentário a este acontecimento, até agora.

Durante o dia, Teerão insistiu de forma veemente na necessidade de a Arábia Saudita repatriar rapidamente todas as vítimas do espezinhamento ocorrido durante o hajj, na semana passada, em Meca. Entre os 769 mortos das contas oficiais sauditas figuram 239 iranianos, e o guia supremo Ali Khamenei afirmou que “o Irão reagirá duramente” se Riad “não cumprir o seu dever” de devolver ao seu país os corpos dos peregrinos mortos.

Teerão acusou Riad de graves negligências na organização da grande peregrinação anual do mundo muçulmano – o assunto chegou mesmo à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque. Segundo Khamenei, “os responsáveis sauditas não fizeram o seu dever e, nalguns casos, fizeram mesmo o contrário [do seu dever].”

A questão é que o repatriamento dos corpos dos iranianos está a demorar, enquanto Riad acusa Teerão de estar “ politizar” a catástrofe que pôs de luto a peregrinação religiosa. O clima entre os dois países está tenso também por causa da Síria. Na terça-feira, à margem dos discursos na Assembleia-Geral da ONU, o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, Adel al-Jubeir, afirmou que “o Irão faz parte do problema e não pode fazer parte da solução”, relatou a AFP.