Governo alterou contas da Parvalorem para melhorar défice de 2012
Finanças retiraram imparidades de 157 milhões às contas da holding que tem os “activos tóxicos” do BPN.
Num esclarecimento enviado na manhã desta terça-feira, o Ministério das Finanças rejeita qualquer manipulação de contas e frisa que “o registo contabilístico de imparidades é função de estimativas de perdas futuras em créditos existentes” e que “as imparidades são avaliadas e validadas pelos auditores das empresas de acordo com os critérios definidos para o efeito e adequadamente reflectidas nas contas”.
Assim, “qualquer materialização ou não dessas perdas é sempre registada nas contas da Parvalorem no momento em que se verificam, com o correspondente impacto nas contas públicas, pelo que não há qualquer manipulação ou ocultação de contas”, acrescenta o ministério de Maria Luís Albuquerque.
“A transparência é total. Foi um exercício competente. Eu teria feito a mesma coisa”, disse entretanto o primeiro-ministro e líder da coligação Portugal à Frente (PaF), Pedro Passos Coelho, à margem de uma acção de campanha em Cantanhede, Coimbra.
Já a administração da Parvalorem veio, também em comunicado, revelar “a sua perplexidade” com a notícia da Antena 1 e diz “recusar liminarmente as afirmações distorcidas e manipuladas” utilizadas na peça. Nela “são feitas deturpações da realidade ocorrida naquele ano [2012]”, diz a gestão liderada por Paula Poças.
Segundo noticia esta terça-feira a Antena 1, em Fevereiro de 2013, quando era secretária de Estado do Tesouro, a agora ministra das Finanças foi informada que as contas da Parvalorem apontavam créditos em risco de incumprimento no montante de 577 milhões de euros. E pediu então à administração da holding que mexesse nas contas, de modo a minimizar o impacto destas imparidades no défice orçamental (que reflecte as contas das empresas públicas) de 2012.
“Aquilo que nos pergunta [Maria Luís Albuquerque] é ‘qual é a vossa melhor expectativa relativamente à informação que têm e às garantias que têm neste momento”, relatou Paula Poças. “Considerámos que não fazia sentido estar a agravar no momento já as imparidades”, acrescentou a administradora.
E por isso as contas foram revistas, refere a Antena 1, afirmando ter documentos que comprovam a operação contabilística feita a pedido da tutela, já depois das contas da Parvalorem estarem aprovadas pela administração.
De 577 as imparidades foram revistas para 420 milhões, empurrando-se o prejuízo para exercícios futuros: “Claro, é isso que acontece numa carteira de cobrança difícil, como é o caso”, justificou Paula Poças.
"Para poder reduzir o valor de 577 milhões de euros, foi necessário analisar todos os créditos com imparidades individuais e reduzir as imparidades colocadas pelos técnicos e aceite pelos auditores", refere, por outro lado, uma comunicação enviada a Maria Luís Albuquerque e citada pela Antena 1.
"Só 41 clientes representam uma variação nas imparidades de cerca de 450 milhões", "temos situações de imparidades de 2011 realmente baixas para o risco", "temos créditos que só em 2012 vieram para a carteira da Parvalorem" e "acresce o facto de parte significativa destas imparidades estarem em clientes mediáticos, portanto do conhecimento público (grupo BPN/SLN e ex-acionistas, com garantias muito frágeis ou mesmo sem garantias e em clientes que sabemos em insolvência ou a quem vai ser declarada a insolvência a curto prazo)", refere ainda o documento enviado à então secretária de Estado do Tesouro pela gestão da Parvalorem.
Segundo a rádio pública, a administração liderada por Paula Poças demorou três dias a apresentar o resultado: "Após este trabalho cirúrgico conseguimos reduzir o valor das imparidades de 577 milhões de euros para 420 milhões de euros".
"Muito obrigada pelo trabalho efectuado. O resultado não é o que eu desejaria, mas isso não significa que seja possível fazer melhor", respondeu então Maria Luís Albuquerque, citada pela Antena 1.
No comunicado enviado às redacções, a holding liderada por Paula Poças refere que o trabalho de fecho de contas de 2012 “não foi mais do que um normal exercício realizado pelos serviços de auditoria, contabilidade e sob a exclusiva responsabilidade do conselho de administração”.
A nota refere ainda que este se sente “gravemente lesado na sua honra e dignidade profissional, já que, mais não ocorreram do que procedimentos normais em qualquer empresa com este perfil e objecto social”.
A administração da Parvalorem recusa qualquer acusação de manipulação de contas: “O afirmado constitui algo de impossível pelos motivos já referidos pois as contas da empresa são sujeitas ao parecer do conselho fiscal e dos auditores pertencentes a uma reputada empresa internacional”.