Taliban fazem primeiro avanço no Afeganistão desde 2001
O grupo islamista radical entrou em Kunduz, cidade estratégica do Norte do Afeganistão. Ao mesmo tempo, o Estado Islâmico também tenta ganhar terreno.
O avanço sobre Kunduz começou nesta segunda-feira. Trata-se de uma cidade estratégica, situada a menos de cem quilómetros da fronteira com o Tajiquistão e capital de uma província onde os islamistas progrediram nos últimos anos, ainda que sem conquistas territoriais de grande dimensão.
Foi a segunda vez que os taliban tentaram entrar na cidade, que já tinham atacado em Abril e Junho. Nessa altura, foram obrigados a recuar depois de violentos combates com o exército e a polícia afegãos.
Segundo uma fonte da AFP no local, as ruas da cidade estão praticamente desertas pois os habitantes estão fechados em casa. "As forças de segurança estão a responder" e 20 [taliban] morreram, disse o porta-voz da polícia da província de Kunduz à AFP; garantou que os taliban estavam a recuar. "A situação é crítica", disse por seu lado um funcionário de uma organização não governamental ocidental em Kunduz que pediu o anonimato.
"Os taliban tomaram o controlo do nosso bairro, consigo ver os combates", disse uma fonte da agência francesa no local acrescentando que os combatentes estavam a "menos de um quilómetro do centro da cidade".
A queda desta cidade será um grave revês para o Presidente Ashraf Ghani que prometeu, depois de ser eleito em 2014, levar a paz ao seu país devastado por 30 anos de conflitos, 14 deles com os taliban que chegaram ao poder mas foram derrubados no final de 2001, com uma intervenção militar dos países do Ocidente.
O exército afegão já não conta com o apoio das tropas da NATO, que se retiraram de combate neste país em Dezembro do ano passado - ainda estão no Afeganistão 13 mil homens da Aliança Atlântica mas em missão de formação e aconselhamento.
Apesar de um grave conflito interno sobre a sucessão à sua figura tutelar, o mullah Omar, os taliban continuam a cometer atentados contra os militares e os polícias em todo o país. As primeiras negociações de paz directas entre os taliban e o Governo de Cabul realizaram-se em Julho, mas foram suspensas após o anúncio da morte do mullah Omar, que terá morrido no início de 2013, sendo substituído pelo mullah Akhtar Mansour.
Zabihullah Mujahid, o habitual porta-voz dos taliban, confirmou à AFP que o seu movimento está na origem da ofensiva em Kunduz. Mas o movimento colocou-se à margem do atentado de domingo em Paktika, que matou 13 civis (sete delas crianças) e feriu 33 durante um jogo de voleibol. Paktika, na fronteira com o Paquistão, é considerada um bastião Haqqani, um dos ramos mais duros dos taliban.
Jihadistas avançam
Coincidindo com este avanço taliban, também os combatentes do autoproclamado Estado Islâmico (EI) estão a tentar avançar no terreno no Afeganistão. As ofensivas ocorrem em simultâneo - mas não são assim planeadas, os dois grupos não são aliados - e estão a enfraquecer a capacidade de resposta das forças armadas e policiais e a fragilizar o governo de união nacional de Ghani.
No domingo, o EI lançou a sua primeira grande ofensiva contra a polícia afegã na província de Nangarhar - morreram duas pessoas. Este ataque marca uma nova etapa no esforço do grupo jihadista para se implantar na província de Khorasan, uma zona que engloba o Afeganistão e os países limitrofes, de acordo com a lógica de criação de um "califado mundial" do grupo.
"Nangarhar é uma província estratégica para o Afeganistão e o EI quer controlar o tráfico de ópio" que passa na região, disse Atiqullah Amarkhaïl, um general na reserva.
Um relatório das Nações Unidas datado de Junho diz que se assiste a "uma expansão viral do Estado Islâmico" no Afeganistão. Muitos antigos combatentes taliban passaram para as fileiras do EI, tendo muitos mudado de campo depois de saberem que a morte do mullah Omar, só recentemente revelada, lhes foi escondida durante anos.