Casa das Mudas passa a museu com colecção própria
Colecção da Região Autónoma da Madeira tem perto de 400 peças de 100 artistas que estavam até agora na Fortaleza de São Tiago
“A ideia foi dar mais condições à coleção de arte contemporânea da Região Autónoma da Madeira, que tem perto de 400 peças. O actual edifício não tem capacidade nem as condições necessárias”, disse à Lusa a directora regional da Cultura madeirense. Carina Bento salientou que o actual espaço do Museu de Arte Contemporânea, na fortaleza, na zona este do Funchal, instalado em 1992, conseguiu, “com enormes dificuldades financeiras, cumprir de forma muito correta” o seu papel, mas não deixava de ter limitações “do ponto de vista das condições de ambiente”.
“Estamos a falar de uma fortaleza, uma construção de 1614, e, por muito que adapte com ares condicionados, não é um edifício pensado de raiz para espaço expositivo no sentido de arte contemporânea”, sublinhou a responsável. Por isso, no âmbito da “aposta de descentralização cultural” do actual Governo da Madeira, este núcleo composto por obras de aproximadamente cem artistas plásticos, desde a década de 1960 até aos dias de hoje, vai mudar-se para o Centro Cultural - Casa das Mudas, passando a estar a uma distância de 35 quilómetros (cerca de 40 minutos de carro).
Carina Bento desvaloriza o factor distância, realçando que o novo espaço - construído com base num projecto da autoria do arquiteto Paulo David, que já foi premiado a nível internacional - surgiu numa “antiga propriedade solarenga, sobranceira ao mar, que tem as condições ideais, e foi pensado de raiz com cariz museológico, estando perfeitamente integrado na paisagem”.
A responsável anunciou que o núcleo também vai mudar de nome, adotando a designação do novo espaço e ficando assim denominado MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira. “Esta mudança permitiu ampliar de forma significativa a área de exposição, passando dos 428 metros quadrados na fortaleza para 1.811 metros”, salientou a diretora regional, mencionando que o novo espaço dispõe de nove salas distribuídas por três pisos, um auditório com 191 lugares, um centro de documentação para estudo da arte contemporânea portuguesa, serviço educativo e outras estruturas de apoio.
O novo museu também vai ter uma oferta de transporte, o denominado Mudasbus, um pacote que inclui a viagem de ida, com partida do Funchal, passagem pelas antigas estradas regionais e regresso. Este é um projeto em “fase experimental” pensado para os turistas, entre os quais os que chegam nos navios de cruzeiro.
Conjugar esta oferta museológica com a de outros núcleos - caso do Museu Etnográfico da Ribeira Brava, o Engenho da Calheta (“visitado por imensos turistas”) e o projeto de recuperação dos caminhos reais que o Governo Regional está a desenvolver - é outro objectivo apontado.
Carina Bento mencionou que o novo espaço terá uma exposição permanente e vai ainda contar com “alguns empréstimos para enriquecer o espólio” por parte da PT, do Banif ou do Museu Berardo
Já a Fortaleza de São Tiago vai ser transformada no Museu da Arqueologia, “mais consonante com a história da sua construção”, passando a contar a história do domínio filipino no arquipélago. Neste espaço também será criado um laboratório de arqueologia, onde ficarão expostas as peças encontradas durante as obras pós-temporal de 20 de fevereiro de 2010, na marginal do Funchal, e que, conforme forem sendo recuperadas, podem “complementar um circuito das ruínas e muralhas musealizadas”.
O Museu de Arte Contemporânea da Madeira foi nos primeiros oito meses deste ano o terceiro mais visitado na região, com cerca de sete mil entradas.
“Para mudar mentalidades às vezes é preciso partir muita pedra, mas estou confiante nesta aposta na descentralização cultural na Madeira”, concluiu Carina Bento.