Paris também vai ter as suas “Torres Gémeas”
Jean Nouvel e Christian de Portzamparc são os arquitectos dos dois novos edifícios que serão construídos na capital francesa, o primeiro, entremuros, o segundo, na cidade futurista de La Défense.
Nouvel, o arquitecto da nova Filarmonia de Paris e do Instituto do Mundo Árabe, viu finalmente autorizada esta semana – noticiou esta quarta-feira o jornal Le Monde –, pela câmara da capital francesa, a construção do projecto Duo, duas torres que desenhou para o 13º. Bairro, na margem esquerda do Sena, perto da Biblioteca Nacional.
São duas torres lado a lado, mas assimétricas, com formas pouco usuais, e com dimensões diferentes: uma terá 180 metros e 39 pisos, a segunda, 122 metros e 27 pisos. Albergarão escritórios e lojas comerciais, um hotel e um restaurante, além de jardins e terraços cheios de áreas verdes.
“A atribuição da licença de construção faz-nos entrar numa nova fase deste projecto entusiasmante”, disse, em comunicado citado pelo Le Monde, Meka Brunel, vice-presidente executiva para a Europa da empresa Ivanhoe Cambridge, o consórcio internacional com origem no Canadá que está por detrás do empreendimento. Aquela executiva acrescenta que o projecto de Jean Nouvel expressa “uma visão urbanística reflectida e concertada” que irá enriquecer a margem esquerda de Paris.
Por sua vez, a comissária autárquica responsável pela autorização da construção, Marie-Claire Eustache, justificou a decisão por ver o Duo como um projecto “completo e bem medido nos seus diferentes aspectos e impactos urbanísticos”.
A presente decisão da Câmara de Paris – recorde-se – surge na sequência daquela, histórica, que foi tomada no final do passado mês de Junho e que pôs termo a uma proibição de construção de edifícios dentro dos muros da cidade (Périphérique) com mais de 37 metros de altura, uma disposição legal que vinha desde a década de 1970, e que fora motivada pela construção da polémica Torre Montparnasse, que com os seus 210 metros ficou a “rivalizar” com a altura da Torre Eiffel (324 metros).
Uma legislação contra a qual o próprio Jean Nouvel se vinha manifestando desde há muito tempo – e que comentou, em entrevista ao PÚBLICO quando visitou o Porto em Novembro do ano passado, desta forma irónica: “Em França, porque se gosta muito da guilhotina, cortam-se os edifícios todos pela mesma altura”.
Em Junho, o pretexto para a revisão da legislação (equivalente aos nossos PDM) foi o pedido de licenciamento para a construção da Torre Triângulo (180 metros), um empreendimento do consórcio Unibail, projectado pelos arquitectos suíços Herzog & de Meuron (também prémios Pritzker, 2001) para um parque de exposições também para a margem esquerda do Sena, na Porta de Versalhes, e que deverá tornar-se no terceiro edifício mais alto da Paris entremuros – a seguir às torres Eiffel e Montparnasse.
Já o segundo complexo de “torres gémeas” projectado para a capital francesa irá surgir fora do Périphérique, na cidade futurista de La Défense, a oeste e no prolongamento da Avenida dos Campos Elísios.
Projecto da mesma empresa da Torre Triângulo, estas duas torres, denominadas “Sisters”, foram desenhadas por Christian de Portzamparc – que em Paris tem já a Cidade da Música, o Museu Bourdelle e a icónica sede do jornal Le Monde.
Serão dois edifícios também de dimensões diferentes: terão 200 e 100 metros, respectivamente, e serão ligadas, à altura dos 80 metros, por uma galeria com três pisos que acolherá um restaurante panorâmico, um auditório, um spa e um jardim.
As torres "Sisters" vão, no entanto, substituir um outro projecto, bem mais ambicioso, que a Unibail tinha para La Défense, mesmo ao lado do também icónico Grande Arche – a Torre Farol, que fora desenhada pelo arquitecto norte-americano Tom Mayne (outro Pritzker, 2005) e deveria chegar aos 300 metros de altura.
A crise económica mundial e um diferendo com a câmara da comuna de Courbevoie, que administra La Défense – diz o jornal Le Figaro –, justificam a desistência da construção da Torre Farol e a sua substituição pelas torres "Sisters" de Portzamparc. O que significa, ainda segundo este diário francês, uma redução nos custos de 900 para 630 milhões de euros, mas, em contrapartida, um adiamento da sua concretização, que em vez de 2016 deverá passar para 2021.