Vila do Conde ambiciona construir réplica do veleiro Cutty Sark
Construtor naval e navegador russo, que visitou a cidade na sua fragata, pretende investir 30 milhões neste projecto.
A Shtandart passou esta terça-feira por Vila do Conde e o seu capitão admitiu estar à procura de espaços para construir o navio. "Queremos encontrar uma comunidade que assuma este sonho connosco. Para já, andamos a ver as cidades e as possibilidades. A ideia de Vila do Conde parece-me promissora, pois tem conhecimento, tradição e mão-de-obra qualificada", disse, adiantando ter já passado por Holanda e Polónia, com o mesmo objectivo.
Os estaleiros locais Samuel & Filhos envolveram-se, nas últimas décadas, na construção de réplicas de embarcações históricas, como as caravelas Boa esperança e Vera Cruz, ou a nau quinhentista ancorada no Ave, no mesmo sitio onde durante séculos se desenvolveu, na cidade, um pujante sector de construção naval reconhecido em todo o país.
A autarca Elisa Ferraz partilhou com os visitantes russos a história e tradição vilacondense neste sector, considerando que atrair este projeto iria dinamizá-lo economicamente e transformar-se numa mais-valia turística para a região, numa altura em que o município se lançou no projecto Um Porto para o Mundo, com o desafio de elevar o conhecimento ancestral ainda existente nos estaleiros locais em património imaterial nacional, antevendo uma candidatura posterior à UNESCO.
"Falo nisto com muitas cautelas e com esperança que consigamos vencer os obstáculos para que em Vila do Conde se faça essa réplica. Acho que era um acontecimento enorme para os estaleiros e para a cidade, porque estamos a falar de uma embarcação que demorará anos a ser feita e que daria dinamismo e projeção à cidade", afirmou Elisa Ferraz. Para a autarca, "o aproveitamento destas técnicas ancestrais de construção naval poderia ser aproveitado para transmitir conhecimentos aos mais jovens". "Seria um feito estrondoso para nós", confessou.
O director do projecto adiantou que a réplica do Cutty Sark terá 60 metros de comprimento, e que terá um custo de construção de aproximadamente 30 milhões de euros, sendo usada para formação marítima, mas também como meio de transporte de cargas, como o veleiro original, famoso pelas velocidades que atingia e que chegou a ser propriedade de uma empresa portuguesa, no início do século XX. "Queremos fazer longas distâncias e provar que, hoje, é possível transportar carga sem uso de petróleo", disse.
Durante a construção, o barco estará aberto a visitas para que o público possa ver os métodos tradicionais da construção naval. A construção, que vai decorrer entre 2017 e 2019, será financiada pela Cutty Sark Sail Fundation, organismo criado para desenhar e construir a réplica que segue os padrões originais do veleiro que em 2007 foi muito danificado por um grande incêndio mas que foi, entretanto, reconstruído.
Já a fragata escola Shtandart, que esta terça-feira esteve em Vila do Conde, é uma réplica de um navio russo do século XVIII, e foi construída pelas mãos do próprio Vladimir Martus, começando a navegar em 1999 e recebendo jovens de várias nacionalidades que durante semanas ou meses aprendem as lides num navio.