Quem se sai melhor no exame da campanha?

Pedimos a quatro especialistas, dois das universidades e dois do marketing, para avaliarem o comportamento dos líderes dos partidos com assento parlamentar. Felisbela Lopes, Marina Costa Lobo, Carlos Coelho e Ricardo Monteiro fazem a sua avaliação.

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Presidente global da Havas Worldwide


Que pensar dos políticos portugueses

Avaliar a imagem de pessoas públicas, sobretudo quando se trata de políticos, é navegar as águas turbulentas dos nossos preconceitos e convicções. Não há aqui a possibilidade de emitir uma opinião profissional.

Todos vamos sendo impactados pelas medidas tomadas, pelos debates, pelos protestos, pela dor alheia ou mesmo pela nossa…Vivemos tempos em que, mesmo os que estão bem e de bem com a vida têm vergonha de o declarar. Depois de quarenta anos a construir a ilusão de que poderíamos criar os nossos filhos com mais do que nós próprios e cuidar dos nossos pais com mais do que os nossos avós, vemo-nos agora confrontados com a quase impossível utopia da sociedade solidária. Chegámos ao fim.

Diz-se que cada povo tem os políticos que merece. É o nosso caso. Por essa razão votamos sempre “nos mesmos”. Por isso, nas contas da autenticidade, todos os que já exerceram o poder me merecem uma nota claramente negativa. Mentem e sabem que o fazem. E nós também sabemos. Obviamente, é mais fácil ser-se autêntico se não se quer o poder. Mas é aqui que entra o paradoxo: quem mais mente é também quem é mais eficaz: dizem-nos o que queremos ouvir, embora saibamos que tudo é, afinal, impossível de cumprir. E ganham as eleições pois a promessa de amanhãs que cantam é sempre preferível às frias noites de inverno.

Em suma, votamos não em imagens mas em miragens. E essas são mais fortes para quem governa ou já governou. Simpático e autêntico é o Jerónimo. Mas ninguém lhe vai confiar o mealheiro. Pobre Catarina, a falar para milhões de velhos marcados pelas filas nos multibancos na Grécia. Não são como ela, jovem e com futuro... E assim,  lá nos encontraremos, nos dias de Outubro, a votar nas eficazes falácias de quem entre todos nos oferecer a melhor miragem. Que é como quem diz, a melhor “imagem” – Passos ou Costa. 


Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa


A Semana de Passos.. e Costa

Esta pré-campanha tem sido dominada pelos líderes políticos, pelas melhores razões. Isto é, não apareceram por estarem nus em capas de revistas, ou por se verem envolvidos em escândalos das suas vidas pessoais ou mesmo públicas. Na última semana os principais candidatos foram capazes de representar ideias políticas distintas. É isso que é necessário numa democracia altamente mediatizada como a nossa em que as televisões são o principal canal de informação política. Assim se vê que personalização não tem necessariamente que rimar com deterioração da qualidade da democracia.

Do ponto de vista dos líderes, Portas é aquele que menos tem conseguido projectar uma imagem de força. Estamos a ver agora os custos de firmar um pacto pré-eleitoral com o PSD: muito menos visibilidade, e genericamente uma campanha feita para anular a independência do CDS-PP. Entre Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, houve novidade, sobretudo da parte da primeira que surpreendeu pela positiva nos debates em que participou, embora tenha brilhado mais contra os líderes de direita – Costa conseguiu retirar-lhe algum brilho e foi eficaz em demonstrar as fragilidades do programa do BE.

Mas a semana foi sobretudo marcada pelo debate entre Passos e Costa. Os comentadores tinham de um modo geral dado a vitória no primeiro debate a Costa, desta vez deram-na a Passos, que se revelou mais assertivo e conseguiu mostrar que Costa não sabe ou não quis dizer de onde virão os 1000 milhões para financiar a contenção de despesa na Segurança Social. Mesmo assim, do ponto de vista da mobilização de campos alternativos, a semana acaba por beneficiar tanto Passos como Costa, que com os seus desempenhos procuram abrir caminho para a bipartidarização do eleitorado e o combate à abstenção. São os dois principais desafios das semanas de campanha que agora começam.


Presidente da Ivity Brand Corp


Ainda à espera das verdadeiras marcas

O contexto geral da primeira semana foi dominada por uma pizza e por mais um incidente com um cartaz onde o personagem não foi nem devidamente informado nem pago, o que conferiu ao inicio de campanha  um certo sabor a fast-food eleitoral desvalorizando a imagem geral da campanha.

Quanto aos candidatos: Pedro Passos Coelho, apesar de nos ter baralhado quando lembrou que “quem tem os filhos são as mulheres”, acabou por ser quem melhor soube gerir a sua imagem e passar a sua mensagem. Paulo Portas, apesar do seu discurso feminista, lembrando-nos que “são as mulheres que pagam as contas no dia certo”, continuou certeiro com as palavras bem soletradas e destacou-se como sempre em termos de eficácia. António Costa, por seu lado, afirmou que tem “as contas feitas”, embora não tenha conseguido explicá-las, tendo, talvez por isso e por um ou dois excessos para com jornalistas, perdido a pole position de onde partiu para esta corrida eleitoral. Catarina Martins, bem humorada, puxou do seu bloco de pedra pómus e sugeriu fazer um peditório para retirar a tatuagem do Syriza, afirmando-se como miss empatia. Já Jerónimo de Sousa foi claro e afirmou que posar nu só perante o duche, o que, apesar de ter deixado muitas sexagenárias desiludidas, lhe permitiu consolidar a empatia de esquerda. Programas de humor à parte, que marcaram também esta primeira semana, os cinco líderes desdobram-se em simpatias e argumentos racionais. Esperemos que para a semana comecem a prevalecer as emoções, de modo a que os eleitores - consumidores possam conhecer melhor as “marcas” de quem se propõe a governar Portugal.


Professora de Jornalismo da Universidade do Minho


Dias decisivos

Serão imprevisíveis os resultados destas eleições legislativas como poderão ser surpreendentes as alianças promovidas após 4 de Outubro. Num contexto de uma colossal fluidez eleitoral, a estrada é uma rota decisiva. E como ninguém foi capaz de desenhar uma campanha inovadora e apelativa, carrega-se no ataque. Que é a melhor defesa para ocultar fragilidades.

No período pós-debates, nenhum candidato poderá apresentar-se em cena com intocável protagonismo. Todos sabem que precisam de adensar na opinião pública uma onda favorável a si próprio e ir capitalizando votos no país real. Nessa empreitada, espera-se que cada um aposte onde mais rende.

Jerónimo de Sousa e Catarina Martins podem andar à vontade pelas ruas e praças, sem medo de conversar com aqueles que esperam que o tempo lhes devolva alguma esperança. Está aí parte do seu eleitorado e o restante revê-se nessa política de proximidade. Paulo Portas também tem grandes dotes para esses passeios públicos, mas o legado dos últimos anos pode servir de arma de arremesso aos que não apreciaram esta governação. Talvez seja melhor preparar quem vai contracenar aí consigo. Pedro Passos Coelho rende mais em palco. Em cenários compostos por pessoas previamente selecionadas, o líder da Portugal à Frente fala com convicção. Mais das propostas dos outros do que das suas. António Costa parece estar à vontade em qualquer sítio, mas precisa de cuidar mais dos enquadramentos em palco e descodificar mais as suas propostas. Não há tempo para ensaios.

 

 

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