Plutão, como se estivéssemos lá

Montanhas, planícies geladas, glaciares que se movem como na Terra, mas feitos à base de azoto, nevoeiro. A sonda New Horizons da NASA pôs-nos dentro do planeta-anão.

Uma vista de 1250 quilómetros de Plutão, com as camadas de atmosfera no horizonte, a Planície Sputnik à direita e as montanhas à esquerda
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Uma vista de 1250 quilómetros de Plutão, com as camadas de atmosfera no horizonte, a Planície Sputnik à direita e as montanhas à esquerda NASA
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O "coração" de Plutão, a Planície Sputnik fica à esquerda. No rectângulo desenhado em baixo, os cientistas identificaram a movimentação de glaciares das montanhas para a planície NASA

As imagens são de 14 de Julho, captadas 15 minutos após a sonda ter feito a aproximação máxima ao planeta-anão. Antes de mais, alguns dados sobre Plutão: o astro foi descoberto em 1930 pelo astrónomo norte-americano Clyde Tombaugh; está, em média, a 39,5 unidades astronómicas de distância do Sol (uma unidade astronómica é a distância entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de quilómetros); faz parte da cintura de Kuiper – uma região que fica para lá da órbita de Neptuno, onde milhares de pequenos corpos gelados giram em torno do Sol; tem 2300 quilómetros de diâmetro, é mais pequeno do que a Lua, demora 248 anos a dar uma volta ao Sol e tem uma temperatura média à superfície de 229 graus negativos.

Nos últimos meses, a sonda New Horizons foi oferecendo fotografias cada vez mais detalhadas daquele astro. Ficámos a conhecer o “coração” de Plutão onde está a Planície de Sputnik, e as cordilheiras próximas da planície. Duas das quais já ganharam nomes, os Montes Norgay e os Montes Hillary (em homenagem aos primeiros alpinistas a escalarem o monte Evereste, Tenzing Norgay e Edmund Hillary).

Nessas fotos, os cientistas da NASA também conseguiram descortinar a ténue mas funda atmosfera de Plutão, e glaciares feitos à base de azoto sólido. Agora, com as novas fotografias, é possível ver a paisagem de Plutão a apenas 18.000 quilómetros de distância.

“A imagem faz realmente com que se sinta que estamos lá, em Plutão, a olhar para a paisagem a nosso gosto”, diz Alan Stern, investigador principal da New Horizons, do Instituto de Investigação do Southwest, em Boulder, no Colorado. “Mas esta imagem também é uma bonança a nível científico, revelando novos detalhes da atmosfera de Plutão, das montanhas, dos glaciares e das planícies”, sublinha, citado num comunicado da NASA.

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Um pormenor de Plutão ao longo de 380 quilómetros de comprimento NASA

Nas fotografias é possível distinguir mais de dez camadas da rarefeita atmosfera de Plutão que vão, pelo menos, até 100 quilómetros de altitude. À direita, observa-se uma parte da Planície Sputnik, que termina a Oeste (à esquerda) com o início de cordilheiras de montanhas que se elevam até 3500 metros, incluindo os Montes Norgay, em primeiro plano, e os Montes Hillary, na linha do horizonte.

Além das camadas da atmosfera, é possível observar-se pelo menos um banco de nevoeiro. “Além de visualmente ser impressionante, estas neblinas junto ao solo sugerem que o tempo em Plutão muda diariamente, tal como acontece na Terra”, nota Will Grundy, um dos responsáveis da missão, do Observatório Lowell, no Arizona, citado pela NASA.

Segundo o comunicado, os cientistas acreditam que o ciclo hidrológico em Plutão, feito por diferentes tipos de gelos, incluindo de azoto, é responsável por fazer evaporar gases, a partir da superfície gelada da Planície Sputnik, que caem, sob a forma de neve, nas montanhas brancas adjacentes. As novas imagens, a que os cientistas só tiveram acesso a 14 de Setembro, revelaram ainda a existência de glaciares, formados naquelas montanhas a partir da neve, que depois escorrem de volta para a grande planície.

Estas características geográficas são semelhantes aos glaciares que se movimentam nas margens das calotes polares na Gronelândia ou na Antárctica.

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Montanhas em Plutão ao longo de 185 quilómetros onde se vê neblina NASA

“Não esperávamos encontrar pistas de um ciclo glaciar baseado no azoto em Plutão, que funciona em condições geladas na parte externa do sistema solar”, diz Alan Howard, outro membro da missão, que pertence à equipa de Geologia, Geofísica e Imagem, da Universidade da Virgínia, citado no comunicado. “Este ciclo, que é conduzido por uma luz solar quase inexistente, é directamente comparável ao ciclo hidrológico da Terra.”

A New Horizons continua a sua missão, iniciada em 2006, quando saiu da Terra. Neste momento, já está a dirigir-se para um outro objecto da Cintura de Kuiper, denominado 2014 MU69, que nos mostrará mais um pouco dessa região fria e distante. Mas esse encontro está marcado para Janeiro de 2019.  

Por enquanto, fiquemos com o planeta-anão e com a sua vida geológica que nos une. “Neste aspecto, Plutão é surpreendentemente parecido com a Terra”, diz Alan Stern. “E ninguém previu isso.”

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