Passos e Costa admitem intervenção militar contra o Estado Islâmico
Costa atrapalhou-se na questão da condição de recursos da Segurança Social. Passos Coelho apresentou-se mais preparado do que no anterior debate e nem por uma vez referiu o nome de José Sócrates.
A atitude mais assertiva do líder do PSD, em relação à sua prestação no debate feito para as televisões, tornou mais equilibrado o frente a frente com o líder do PS, que foi moderado pelos jornalistas Maria Flor Pedroso, Graça Franco e Paulo Baldaia. Um debate que trouxe novos temas e que teve até a particularidade de colocar os dois líderes a admitir uma intervenção de tropas portuguesas contra o Estado Islâmico.
Ao contrário do debate do dia 9, o momento de maior fragilidade perante os ouvintes foi de António Costa, quando, perante a insistência de Graça Franco, não soube explicar o que o PS propõe em relação às condições de recurso da Segurança Social, nomeadamente a sua aplicação ao Complemento Solidário para Idosos.
Foi também de António Costa outro momento de falta de clareza na resposta, que dá de si uma imagem de fragilidade a quem o ouviu. O líder do PS escusou-se a explicar como irá obter um corte de mil milhões de euros nas prestações sociais não contributivas durante a próxima legislatura, remetendo essa questão para negociação em sede de concertação social. A não resposta de António Costa serviu a Passos Coelho para cavalgar num ataque, ou seja, acusar o líder do PS de não saber o que está no programa: “Significa que lhe puseram um número que o senhor não compreende a que diz respeito.”
Foi ainda no tema da Segurança Social que ocorreu um momento em que Passos Coelho se agigantou perante António Costa: insistiu na ideia de que acertassem, ali, que a seguir às eleições, negociariam um acordo para a Reforma da Segurança Social, ganhasse quem ganhasse – uma passagem que deixou ficar a ideia de que Passos mesmo que perca as legislativas tenciona continuar à frente do PSD. O líder do PS foi peremptório em recusar qualquer acordo com a coligação neste domínio insistindo até que a reforma feita por Vieira da Silva em 2007 é valida e apenas tem de ser ajustada, nomeadamente no que toca ao financiamento, ajustes esses que o programa eleitoral do PS contempla. E garantiu a Passos Coelho que a coligação não contará com o PS para cortar os 600 milhões de euros que o Plano de Estabilidade que o Governo entregou em Bruxelas prevê.
Já nas questões sobre fiscalidade o equilíbrio foi maior. Se Passos tentou deixar mal Costa por causa de este ter deixado cair o acordo sobre IRC que o seu antecessor, António José Seguro, fizera com o Governo. Costa tentou encurralar Passos Coelho nas alterações ao IRS e à dedução à colecta. E perante um líder do PSD que tentava explicar que a diminuição de escalões do IRS teve como objectivo “criar mais progressividade” do imposto, bem como que as deduções à colecta de educação tinha sido transferidas para a factura electrónica e as despesas familiares, Costa atirou: “Conhece alguma família que pague menos impostos?”
O frente a frente entre os dois candidatos a primeiro-ministro inovou também na escolha dos temas. Pela primeira vez, falou-se dos refugiados. Ambos os candidatos se manifestaram a favor da recepção de refugiados pela Europa. Passos Coelho sublinhou a necessidade de o fazer em condições de “dignidade” e “segurança” e considerando que “a Europa é um continente envelhecido que precisa de imigração”, afirmou: “Espero que rapidamente haja acordo.”
António Costa deu a inexistência de um acordo na União Europeia sobre os refugiados como o exemplo de como a Europa “está incompleta”. E sobre uma eventual intervenção militar contra o Estado Islâmico, o líder do PS sustentou que esta é uma solução de “ultimo lugar”, mas que, nesse caso, Portugal não deve fugir “as suas responsabilidades”. Já Passos Coelho sobre a mesma questão da intervenção militar afirmou: “Não devemos excluir.”
Outro tema novo foi a Educação, ainda que abordado rapidamente no final. Passos Coelho salientou a “normalidade” com que está a decorrer a abertura do ano lectivo, garantiu que não houve cortes no ensino artístico nem no ensino especial, apenas uma alteração de distribuição. E a sublinhar que o seu Governo concretizou os 12 anos de escolaridade obrigatória introduzidos pelos socialistas, que considera importante “reforçar a escola pública” e que deu “um outro folego ao ensino de natureza profissional”.
Já Costa salientou que para o PS “a capacidade da escola pública mede-se pela capacidade de inclusão”. E criticou o facto de “pela primeira vez em 18 anos o número de crianças na escola diminuiu. Quanto a propostas neste domínio destacou a aposta no pré-escolar a partir dos três anos e afirmou que o seu partido apenas aceita o ensino profissional a partir do secundário.