Maior produtora de queijo fresco do país acorda preço mínimo a pagar pelo leite
Com a crise no sector a fazer cair o valor do leite pago aos produtores, a Queijos Santiago acordou um valor mínimo de 32 cêntimos durante quatro anos.
Em Agosto, o valor pago aos produtores caiu 16% em comparação com o mesmo mês de 2014 e está agora nos 28 cêntimos por litro. Este montante é apenas uma referência, já que os preços variam, nomeadamente, consoante a quantidade produzida (quanto mais se produz, mais o preço cai). De acordo com a Aprolep, Associação dos Produtores de Leite de Portugal, há quem esteja a receber 23 cêntimos e nenhum destes valores compensa o custo estimado de 32 a 33 cêntimos por cada litro produzido.
“Trabalhamos com os nossos produtores há muitos anos e entendemos que esta deve ser uma relação de parceria e não de oportunidade. O que estamos a fazer é contratar com eles um preço mínimo e um preço máximo por um período de quatro anos. Enquanto o contrato durar, não pagamos nem abaixo de 32 cêntimos, nem acima de 38 cêntimos”, disse ao PÚBLICO João Santiago, administrador do Grupo Santiago, fundado há quase 100 anos em Castelo Branco e com sede na Malveira. A empresa, que estima facturar este ano 40 milhões de euros, emprega 250 trabalhadores, produz diariamente 150 mil queijos frescos e tem 70% da quota de mercado. Aos postos de trabalho directos, juntam-se os indirectos: 1500 produtores de leite de vaca, ovelha e cabra que fornecem quase em exclusividade.
Numa altura em que se espera pela concretização das medidas de apoio ao sector, João Santiago acredita que o cenário de preços baixos terá de “dar a volta”. E quando isso acontecer, poder-se-á dar o movimento inverso. “O preço pode aumentar e atingir valores especulativos. Para estarmos salvaguardados fazemos agora este esforço face ao mercado. Os clientes continuam a querer que reduzamos o preço dos nossos produtos e em muitos casos tivemos de o fazer. As margens são quase nulas”, admite.
Sobre as soluções encontradas para travar a crise que assola os produtores, o administrador da Queijos Santiago sublinha que os efeitos em Portugal “são uma gota de água”. “O país representa zero na produção de leite a nível mundial e penso que neste caso teremos de estar sujeitos às soluções que os outros encontrem. Mesmo num cenário em que o preço da indústria local seja alto é possível encontrar alternativas mais baratas fora”, analisa.
Nesta segunda-feira soube-se que, em Espanha, a cadeia de supermercados Mercadona também decidiu aumentar em dois cêntimos o preço do leite à produção e apoiar a sobrevivência das explorações. Esta subida não será reflectida nas prateleiras.
Há uma semana milhares de produtores encheram as ruas de Bruxelas em protesto contra a degradação do valor deste alimento. Os produtores de carne de porco também se juntaram, até porque o preço também caiu 12% em comparação com 2014. Há mais de um ano que o embargo russo está provocar excedentes de bens agrícolas no mercado europeu, mas o veto também afectou os Estados Unidos, a Noruega, o Canadá e o Japão. Com o fim das quotas leiteiras a concretizar-se no dia 1 de Abril e a recessão na China a deitar por terra as elevadas expectativas de exportação, gerou-se uma “tempestade perfeita”.
Bruxelas anunciou ajudas no valor de 500 milhões de euros que incluem a antecipação de 70% das ajudas da PAC (Política Agrícola Comum) para Outubro. Neste pacote estão incluídas as multas por excedente de quotas, uma medida adoptada pela Comissão Europeia para penalizar os produtores que ultrapassaram os níveis definidos de produção de leite. Na campanha agrícola 2013-2014, por exemplo, oito países excederam a quota (Alemanha, Holanda, Polónia, Dinamarca, Áustria, Irlanda, Chipre e Luxemburgo) e a multa chegou aos 409 milhões de euros.
Em Portugal, o Ministério da Agricultura aprovou quinta-feira um plano de acção que inclui a isenção do pagamento da segurança social durante três meses e a criação de uma linha de crédito de 50 milhões de euros. Outro problema que está a acentuar a crise é a queda no consumo de leite (7% no último ano). Por isso, está prevista a realização de uma campanha de sensibilização que será organizada pela indústria e financiada por verbas comunitárias.