Lisboa está a dar a volta às suas praças
Com o programa Uma Praça em Cada Bairro, a câmara quer estender o que fez na Avenida Duque de Ávila e na frente ribeirinha a toda a cidade. A expectativa é que a intervenção no espaço público traga consigo a dinamização do comércio e a requalificação do edificado.
Na semana em que a Câmara de Lisboa aprovou o lançamento dos concursos públicos para aquelas que serão as cinco primeiras obras do programa Uma Praça em Cada Bairro (Saldanha/Picoas, Largo da Graça, Largo de Santos e Rua de Campolide), Manuel Salgado falou com o PÚBLICO sobre o projecto, no qual está previsto um investimento total que ronda os 40 milhões de euros. Ao seu lado esteve o coordenador do programa, o arquitecto Pedro Dinis, que lembrou que tudo isto começou a ser pensado ainda em 2011.
A intenção do município é que a maioria das empreitadas fique concluída até ao fim de 2017, mas o vereador do Urbanismo reconhece que o prazo de concretização de algumas delas pode resvalar, caindo nos braços de quem vier a suceder-lhe na autarquia. Nesses casos, Manuel Salgado admite realizar pelo menos intervenções “low cost” (de baixo custo), com recurso a pintura no pavimento, floreiras e outros elementos de mobiliário urbano amovíveis, que possam mais tarde tornar-se definitivas.
Nas 30 praças nas quais a câmara e as juntas de freguesia consideraram prioritário intervir, e que acabaram por subir para 31 com a inclusão da Praça Marechal Humberto Delgado (Sete Rios), é ao nível do “espaço público” que mais se vai fazer. Lendo as “linhas de acção principais” de cada uma delas, verifica-se que são muitas as expressões que se repetem, como “criação de um pavimento único”, “alargamento” de passeios, “pedonalização” de algumas áreas, “elevação da faixa de rodagem” e “redução do canal rodoviário”.
Mas nos descritivos das intervenções fala-se ainda em “economia e inovação”, área para a qual se elencam metas como a reconversão de áreas comerciais, o desenvolvimento de novas marcas que identifiquem as praças, a realização de acções promocionais do comércio de rua ou mesmo a reabilitação de imóveis. Para defender que tudo isso é possível, Manuel Salgado aponta a Avenida Duque de Ávila (nas Avenidas Novas), que considera ser “o caso mais evidente” do “efeito indutor” que as obras no espaço público podem ter na requalificação de uma zona.
Quando estes projectos se tornarem uma realidade, Lisboa terá ganho novos “espaços de encontro”, com iluminação, rede wi-fi, mobiliário urbano, árvores, esplanadas e equipamentos como quiosques e parques infantis. Manuel Salgado acredita que estes serão também “pólos de atracção” capazes de atrair não só lisboetas mas também turistas, que assim descobrirão equipamentos e espaços que até aqui estavam longe do seu olhar.
Tanto o vereador como o coordenador do programa Uma Praça em Cada Bairro sublinham o processo participativo que foi desenvolvido pela câmara em torno deste projecto. Segundo Manuel Salgado, para cada uma das praças foram realizadas duas reuniões com a população, conduzidas pelas juntas de freguesia, tendo ainda sido aberto um espaço de participação no site do município.
“A primeira sessão era como se fosse uma página em branco”, conta Pedro Dinis, explicando que aos participantes era dada total liberdade para apresentar sugestões, cuja viabilidade em termos técnicos era depois verificada. Foi das sessões participativas que resultaram, por exemplo, as decisões de voltar a instalar no Largo do Calvário (em Alcântara) um fontanário que tinha sido entretanto colocado noutro local ou de introduzir um elemento de água na Rua de Campolide (na freguesia com o mesmo nome).
A todos aqueles que estão preocupados com os impactos que estas intervenções poderão ter na circulação automóvel, Manuel Salgado manifesta a convicção de que ela “não vai ser penalizada” e garante que “têm sido sempre feitos estudos de tráfego”. Quanto ao estacionamento, o autarca diz que se esta “a tentar sempre não perder lugares” e “a procurar alternativas”, nomeadamente através da construção de novos parques nas imediações.