Debates televisivos influenciam, mas podem ter atingido alguma “saturação”

Jerónimo e Catarina Martins inauguram esta noite a série de duelos televisivos para as legislativas, mas há outros frente-a-frente que ainda não estão fechados.

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Os debates terão todos 50 minutos, à excepção do Passos Coelho/António Costa que terá 1h20 minutos DR

“O debate político faz parte da democracia e não faria sentido uma campanha eleitoral prescindir dos media e, particularmente, da televisão como meio de comunicação social”, afirma Paula Espírito Santo, professora de Sociologia Política na Universidade de Lisboa (UL). “Não podemos dizer que não influenciam, mas também não podemos quantificar de uma forma que seja cientificamente elevada qual é a importância que o debate tem na relação com os outros factores que poderão também concorrer fortemente para a formação da opinião”, sublinha.

Ao PÚBLICO, a professora refere, todavia, que “houve tempos em que o papel da televisão seria mais centralizador no plano daquilo que é a formação de opinião. Hoje em dia o que podemos dizer é que a televisão talvez tenha atingido uma fase de alguma saturação em termos de conseguir delinear e fazer reflectir melhor sobre os conteúdos políticos”. Seja como for, Paula Espírito Santo vinca que “não se pode dizer que os debates televisivos tenham perdido o seu papel de mobilização e de informação, mas certamente está reduzido se compararmos com o tempo em que a televisão e o debate político eram novidade”.

A professora da UL, Conceição Pequito, não descura o papel dos debates televisivos, mas revela que há outros “factores determinantes na formação do voto como o facto de a economia estar a melhorar e a situação económica do agregador familiar. Estes factores têm tendência a ser mais importantes do que os debates e as próprias campanhas”.

Conceição Pequito refere que, "havendo a percepção generalizada de que nenhum dos partidos tem maioria absoluta, os debates televisivos podem fazer com que uma abstencionista vá votar no PSD ou no PS”, mas já não acredita que “uma pessoa que tenha o voto definido vá mudar em função do debate”. A professora de Ciência Política da Universidade de Lisboa aponta uma outra razão que considera importante e que tem a ver com o “debate que se faz a seguir aos próprios debates televisivos e toda a interpretação que se fará depois pela comunicação social, porque isso pode gerar uma onda de confiabilidade e é muito importante na decisão de se ir votar”.

Já sobre a pré-campanha para as legislativas classifica-a como “pobre, desinteressante e pouco mobilizadora” e diz que os temas a debater na campanha propriamente dita não têm novidades.

Para além dos conteúdos programáticos de cada uma das forças, Conceição Pequito gostava de ver a maioria de direita e o PS a dizer como é que vai ser o pós-4 de Outubro num cenário de nenhum partido ter maioria absoluta. “Isso seria um aspecto muito importante a ser discutido”, afirma, questionando: ”Como é que a coligação vai fazer para aprovar o Orçamento do Estado do próximo ano, uma vez que não tem nenhum aliado à direita?”

Investigador José Bourdian destaca “importância dos debates televisivos” e afirma que as “pessoas votam em função dos dados da economia e do emprego e não só em função do candidato a primeiro-ministro”.

O investigador de Ciência Política adverte para um aspecto que pode acontecer que é o partido mais votado poder não ganhar as eleições. “Isto tem a ver com o facto de termos um poder de representação proporcional que, ao contrário do que o nome indica é desproporcional". "O sistema eleitoral devia de ser amplamente discutido pela sociedade portuguesa”, defende.

50 minutos sem cronómetro
No dia em que Jerónimo de Sousa e Catarina Martins inauguram os duelos televisivos, há datas de próximos debates que ainda não estão fechadas por incompatibilidades de agendas tanto dos líderes como das estações televisivas. É o caso do frente-a-frente entre o líder da CDU e o líder do PS, António Costa bem como o de Paulo Portas, líder do CDS, com Heloísa Apolónia, de Os Verdes.

Os debates terão todos 50 minutos, à excepção do Passos Coelho/António Costa que terá 1h20 minutos. Os canais de televisão não farão uma divisão rígida do tempo para cada um dos intervenientes, embora tenham a preocupação de equilíbrio. Na RTP Informação, que acolhe o primeiro debate, haverá um cronómetro para controlar o tempo, mas que apenas será visível para o moderador – o jornalista Vítor Gonçalves – e para os dois líderes partidários.

Sem revelar os temas em cima da mesa, Vítor Gonçalves diz que pretende “procurar as diferenças entre os dois irmãos da família da esquerda, a CDU e o BE, em que as proximidades são maiores”. Na SIC Notícias, que terá Paulo Portas/Catarina Martins, dia 8, e Jerónimo de Sousa/António Costa (sem data fechada), também não haverá uma divisão rígida dos tempos, embora a preocupação seja a de haver equilíbrio. Quanto aos temas, “serão os que se colocam aos portugueses, dos impostos à Segurança Social”, refere António José Teixeira, director da SICN.

Nos partidos mais à esquerda, a preparação dos líderes não envolve outros meios externos às estruturas partidárias. No PCP, a discussão dos temas é feita no colectivo do partido, no BE, é na direcção de campanha que se acertam os discursos. O PS recorreu ao media training para preparar António Costa para os duelos televisivos. As atenções centram-se no embate com Passos Coelho, que tem treino de debate parlamentar.

O puzzle dos frente-a-frente televisivos foi acertado depois de prolongadas conversações que começaram com um veto do PCP e do PS à presença de Portas por considerarem ser uma dupla representação da coligação PSD/CDS. O desfecho acabou por ditar que houvesse um duelo Paulo Portas/Heloísa Apolónia. De fora ficou a realização de um debate com todas as candidaturas com assento parlamentar – que seria já em plena campanha, dia 22 – por falta de entendimento entre os partidos.

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