Consumo privado e investimento impulsionam crescimento da economia
Compra de bens não duradouros foi a que mais contribuiu para a aceleração do consumo privado entre Abril e Junho.
Enquanto o contributo da procura interna (o consumo privado, mais o consumo público e o investimento) passou de 1,8 pontos percentuais nos três primeiros meses do ano para 3,4 pontos entre Abril e Junho, a procura externa (o valor das exportações líquido das importações) deu um contributo negativo de 1,9 pontos percentuais para a variação do Produto Interno Bruto, com a compra de bens e serviços ao estrangeiro a crescer a um ritmo superior às exportações.
O peso ganho pela procura interna face à externa na composição do PIB aconteceu sem se verificar uma alteração no ritmo de crescimento da economia, que se manteve igual no segundo trimestre ao do primeiro, tanto na comparação em cadeia como na variação homóloga. O que aconteceu para a procura interna se destacar? De acordo com o INE, a recuperação do consumo privado – com um crescimento 0,8 pontos acima do trimestre anterior, para os 3,3% – deveu-se sobretudo a uma aceleração da componente dos bens não duradouros (bens como alimentação, roupa, medicamentos, por exemplo) e serviços. Este segmento estava a crescer em termos homólogos 1,5% no primeiro trimestre e passou a crescer 2,3% no segundo.
A progressão foi também acompanhada de um crescimento da componente dos bens de consumo duradouros. O crescimento homólogo, bem mais expressivo, estava em 14,4% no primeiro trimestre, passando para 16,9% entre Abril e Junho, principalmente à boleia da “evolução das despesas com a aquisição de veículos automóveis”.
O INE já tinha divulgado uma primeira estimativa para a variação de crescimento no segundo trimestre, mas faltava conhecer valores para as diferentes componentes do PIB. Sabia-se apenas que o desempenho da economia está a assentar mais na procura interna do que na procura externa.
Quanto ao investimento, a variação homóloga foi de 7%, um ritmo superior aos 1,7% registados no primeiro trimestre. A aceleração, refere o INE, “foi determinada pela evolução da variação de existências [um reforço dos stocks das empresas]”. Se entre Janeiro e Março esta componente do investimento teve um contributo negativo (de -1,2 pontos percentuais), agora passou para um contributo positivo (de 0,5 pontos percentuais). O que se passou no primeiro trimestre para haver aquela diminuição teve a ver “em larga medida” com o facto de no primeiro trimestre do ano anterior se ter registado um “expressivo aumento das existências, sobretudo de produtos petrolíferos”.
Em desaceleração – e de forma significativa, diz o INE – esteve o investimento total. Depois de um crescimento homólogo de 9,5% no primeiro trimestre, o ritmo abrandou para 3,9%.
O investimento na construção foi o segmento que mais contribuiu para a desaceleração do investimento total, “registando um crescimento homólogo de 1% em termos reais, após o aumento de 8,5% no trimestre anterior”, que por sua vez comparava com um trimestre de 2014 em que se registara o valor “mais baixo” desde 1995.
O segmento das máquinas e equipamentos “também contribuiu para a desaceleração” do investimento, com a variação homóloga a passar de 13,6% para 6,5%. Já a formação bruta de capital fixo em equipamento de transporte “manteve um crescimento homólogo acentuado no segundo trimestre, que se situou em 29,5%, embora inferior ao registado no trimestre anterior (33,0%)”.
A terceira componente da procura interna – o consumo público – tinha registado uma quebra homóloga de 0,4% nos três primeiros meses do ano, mas inverteu a tendência no segundo trimestre, crescendo 0,5%.
Em relação às exportações de bens e serviços, o crescimento homólogo acelerou, passando de 6,6% de Janeiro a Março para 7,8% nos três meses seguintes. Mas ao mesmo tempo em que as vendas ao exterior aceleravam, as importações registavam um ritmo de crescimento mais acentuado. As compras ao estrangeiro aumentaram 12,3% depois de um crescimento de 7,1%. O INE explica que este desempenho das importações reflecte a acentuada aceleração da componente de bens, já que as importações de serviços desaceleraram ligeiramente.
Quando a 14 de Agosto os valores provisórios do PIB foram divulgados pelo INE (e agora confirmados, sem alterações), o Núcleo de Estudos sobre a Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP), da Universidade Católica, veio lembrar que a economia, apesar do ritmo de crescimento, ainda está longe de regressar aos níveis anteriores à entrada em recessão. “A quebra acumulada neste ciclo recessivo entre o primeiro trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2013 foi de 8,1%”, havendo “ainda um longo caminho a percorrer até se atingirem os níveis do PIB de 2010”, sublinhou então o NECEP.