Refugiados que sonharam com Paris e Berlim vão ser recebidos em Penela

O processo de integração, que pretende ser exemplar, vai ser um desafio. Para as quatro famílias, três sírias e uma sudanesa, e para a população do pequeno concelho do Pinhal Interior.

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As novidades chegaram à população através dos partidos políticos. “O município de Penela vai receber um grupo de refugiados constituído por quatro famílias numerosas (…). Esta informação foi-me confirmada pelo presidente de câmara, quando o questionei acerca do tema”, informou em Abril um vereador do PS, através do Facebook. Adiantava ainda que o projecto-piloto seria coordenado pela Fundação Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP), de Miranda do Corvo, um concelho vizinho; fazia notar que ele seria realizado “em parceria com várias entidades” e acrescentava que o município de Penela seria “o único a receber refugiados”.

Para além daquela, o vereador socialista deu já outras informações que só esta semana foram oficialmente anunciadas, como a intenção de alojar as famílias “em quatro apartamentos de tipologia T3”, arrendados pela ADFP à autarquia de Penela, e a de colocar as crianças e os bebés das famílias nas escolas e creches do concelho. Também se referia ao facto de entidades de Penela já terem mostrado” interesse em contratar estes refugiados”.

Apesar de na publicação o PS criticar apenas o “secretismo” com que o executivo estava a conduzir o processo, percebe-se, pelos comentários, que a polémica cresceu em torno de outras questões. “E os penelenses que estão por empregar? E aqueles que vivem em condições precárias?”, pode ler-se num comentário sobre o assunto; e logo a seguir: “Desde que venham e se integrem e trabalhem, acho bem.” “Positivo, porque devemos procurar ajudar os outros. Negativo, porque por cá precisamos de ajuda”, procurava equilibrar, noutro comentário, uma terceira pessoa.

Neste domingo, o presidente da câmara, social-democrata Luís Matias, garantiu que essa discussão está ultrapassada e que a participação da autarquia no projecto da ADFP foi aprovada “sem votos contra”. “Na altura não queria falar do assunto: era demasiado cedo e não queria criar ruído”, explicou, frisando que, entretanto, já foram promovidas inúmeras campanhas de sensibilização. Entre outras acções, conta, mandou distribuir folhetos em que explicava, por exemplo, que a assistência aos refugiados é financiada maioritariamente pela União Europeia. Ao padre, disse também, coube falar, nas missas de domingo, sobre tolerância religiosa e o amor ao próximo – “principalmente aos que mais sofrem”, precisou Luís Matias, referindo-se às quatro famílias, três sírias e uma sudanesa, em que as crianças estão em maioria.

Imigrante quer pôr refugiados a conviver
Rapidamente se perceberá o que valeu a sensibilização. Jaime Ramos, o presidente da ADFP, que pretende vir a acolher mais refugiados, num futuro próximo, fez questão de criar condições para que a integração possa ser um sucesso e um exemplo. E, à frente da equipa, colocou uma socióloga, com experiência académica e profissional na área das migrações e com uma história de vida com pontos comuns à dos refugiados. Natáliya Bekh, uma ucraniana que há 12 anos chegou ao país sem saber uma palavra de português, quer colocar “rapidamente os refugiados nas ruas, a conviver com os penelenses”.

Mal cheguem, começam a aprender a língua e, simultaneamente, a aplicá-la, em passeios pela vila, nas idas à farmácia, e nas visitas aos centros de saúde e ao supermercado, diz. Ao mesmo tempo, a equipa promoverá acções de sensibilização entre as pessoas que fazem atendimento naqueles serviços, bem como nas escolas e creches que vão receber as crianças. “É muito importante que de ambas as partes haja abertura para conhecer e respeitar a cultura dos outros”, sublinha Natáliya Bekh.

A coordenadora do projecto admite que o processo seja relativamente lento – por exemplo, no início, as aulas de português serão dadas aos homens e às mulheres em grupos separados. Ela diz esperar, no entanto, que "dentro de poucos meses" consiga juntá-los na mesma sala. Para isso, contribuirão, acredita, o exemplo de outros elementos da equipa, como a intérprete, tunisina e muçulmana, que também reside em Portugal.

Superada a barreira da língua, tudo se tornará mais fácil, acredita Natáliya Bekh. O acompanhamento psicológico das 21 pessoas; o reconhecimento das qualificações dos adultos; a formação, se for caso disso, nas mesmas áreas ou alternativas; e a realização de estágios ou de serviços de voluntariado que lhes permita adaptarem-se ao mundo do trabalho português fazem parte do plano de acções a desenvolver durante os dez meses em que o projecto é financiado. Mas “as excursões pelo país, para mostrar a belezas de Portugal – naturais, históricas e culturais”, como sublinha a coordenadora do projecto, não estão no fim da lista.

“Mesmo para a sua auto-estima, é muito importante que eles aprendam a gostar do país, a sentirem orgulho por estar aqui e, se for caso disso, em virem a ser portugueses”, explica. Afinal, lembra, vão chegar dia 11 (se entretanto a viagem não for adiada) a uma vila de cerca de 3500 habitantes, no Pinhal Interior, um sítio muito diferente das cidades de Londres, Paris e Berlim com que sonharam no Egipto. 

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