O arame farpado na fronteira entre a Hungria e a Sérvia tem pedaços de roupa
Há milhares de refugiados em acampamentos em Budapeste. Muitos não se registam e pedem asilo, porque aquele não é o seu destino e têm medo de ser repatriados.
O jornalista da AFP testemunhou a passagem da fronteira por 200 pessoas, ao início da manhã de domingo. Seguiram-se outros grupos, que já não contou. Ao fim do dia, o número deveria chegar ao de sábado, quando, segundo os dados oficiais, entraram na Hungria, pela Sérvia, 3080 pesosas.
Na zona da fronteira o Governo de Budapeste criou zonas de registo, para identificar os que entram e tentar enviá-los para centros de acolhimento. Porém, a Hungria não é o destino desejado por estes grupos, e em grande número estas pessoas oriundas de países em guerra (a maioria dos que usa a rota das Balcãs para entrar na União Europeia vem da Síria, Iraque e Afeganistão) seguem em direcção a Budapeste.
A capital húngara está inundada de refugiados e o presidente da câmara mandou instalar casas de banho, duches e torneiras de água potável nas áreas de trânsito das estações de comboios, elas também cheias de refugiados que não querem ficar ao relento e que chegam exaustos e quase já sem dinheiro. Ali, têm o apoio de organizações não governamentais e da população da cidade, solidária, que leva alimentos, medicamentos, roupas, fraldas e brinquedos para os bebés.
"É surrealista", disse à AFP um húngaro, Csaba Havasi, que ziguezagueava por entre centenas de pessoas numa estação da cidade; entava chegar à plataforma do seu comboio.
Nas estações de Budapeste também foram criados centros de registo de refugiados (onde podem pedir asilo e são aconselhados a seguir viagem para um campo de acolhimento). Mas a maior parte não o faz – porque se forem enviados para campos, correm o risco de ser repatriados.
Esse risco não existe apenas na Hungria. Na Áustria, o país para onde querem seguir a maior parte dos refugiados que chegam à Hungria, o procedimento é idêntico. Neste domingo, a polícia austríaca anunciou que a família das três crianças hospitalizadas depois de terem sido encontradas desidratadas num camião com 26 refugiados, tinham levados os miúdos e desaparecido – a própria polícia disse "suspeitar" que tenham já passado a fronteira para a Alemanha.