PS acusa Rangel de "partidarização da justiça" e exige clarificação de Passos
Francisco Assis considera declarações de eurodeputado do PSD de "extrema gravidade" e diz que põem em causa a separação de poderes, prejudicando a democracia.
Na última 'aula' da Universidade de Verão do PSD, Paulo Rangel fez uma clara leitura política das investigações a José Sócrates e a Ricardo Espírito Santo: "Alguém acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro-ministro sob investigação" ou que "o maior banqueiro estaria sob investigação?"
Francisco Assis convocou os jornalistas para, no Porto, reagir com firmeza: "É uma operação clara de partidarização da justiça, a partir do momento em que um alto dirigente político admite a intervenção política na justiça", e isso "é de uma gravidade extrema, pois põe em causa princípios fundamentais, desde logo o princípio da separação de poderes", considerou o eurodeputado do PS.
Por isso, e porque tais declarações foram feitas por "uma figura de referência do PSD" e "no âmbito de uma iniciativa partidária, a Universidade de Verão do PSD", Assis desafiou directamente Pedro Passos Coelho. "É preciso colocar a questão ao líder do partido, que tem de dizer se se reconhece ou não e e se se demarca ou não deste estilo de intervenção política" que, afirmou, "abre as portas às mais diversas teorias da conspiração, não só neste caso como em outros".
Francisco Assis não poupou nas palavras para qualificar a declaração de Paulo Rangel: "Esse jogo prejudica a nossa democracia", "polui o debate democrático´" e "impede a discussão dos problemas do país".
Em contraponto, fez questão de salientar o "respeito pela separação de poderes" que o PS e em particular o seu líder, António Costa, têm defendido. "O PS tem participado no debate eleitoral com grande elevação e, neste caso em particular, com grande respeito pela separação de poderes".
Passos não comenta casos
Mesmo antes da comunicação de Francisco Assis, Passos Coelho já tinha sido confrontado pelos jornalistas com as declarações de Paulo Rangel, mas sacudiu o seu impacto político e preferiu centrar-se no sistema de justiça.
"Espero que ele tenha razão e que as pessoas possam acumular uma percepção positiva sobre o nosso sistema de justiça", afirmou o primeiro-ministro, à margem de uma deslocação a Chaves.
Mas assinalou o grau de perturbação que aquelas declarações podem trazer: "São tudo elementos que se perturbam com facilidade, pelo que eu não farei nenhum comentário sobre casos de justiça, mas sim sobre a afirmação de que há hoje uma percepção de que a justiça funciona melhor".