Não chega para ganhar eleições, mas dá uma ajuda. De uma forma geral, os partidos portugueses têm pegada digital. Ao Facebook, por exemplo, começaram a chegar na viragem da década, sobretudo à direita — em 2010 com o PSD, o PPM e o PNR, por exemplo, mas também o PPP, a versão nacional do Partido Pirata original, na Suécia.
No Twitter, o PSD também foi pioneiro: o primeiro post, medidas para o sector têxtil de Manuela Ferreira Leite, data de Fevereiro de 2009, enquanto que o PS em Novembro de 2011 inaugurava o seu “feed” com uma proposta alternativa à subida do IVA na restauração. Em Outubro de 2008, contudo, já a conta do jornal online do BE, o Esquerda.net, fazia o seu primeiro “tweet”.
Mas esses são apenas dois dos canais mais visíveis. As forças políticas, em particular aquelas com assento parlamentar, gostam de estar em todas as redes, mesmo que o proveito político retirado seja marginal. A verdade é que é muito fácil, e sempre gratuito, carregar um ou mil tempos de antena para o YouTube. Por outro lado, será que o PSD precisa mesmo de um Pinterest quando segue mais pessoas (36) do que aquelas que o seguem (172)?
Adelino Maltez, professor no ISCSP da Universidade de Lisboa, explica ao P3 que esta tem sido “uma campanha bipolarizadora”, no sentido de um confronto entre PSD e PS, mas também a nível mediático. “Os novos partidos ficaram à margem. O eleitorado não os conhece”, sintetiza. No caso dos bipolarizadores, “há um argumentário seguido à risca” do lado da coligação e “uma desertificação de espaço opinativo, sobretudo em canal aberto” no caso do PS.
Em relação ao papel desempenhado pelas redes sociais na batalha política, o investigador de ciências políticas explica que “os grandes partidos entregaram isto a empresas” e que, no cômputo geral, o PSD está à frente por ter “uma dinâmica montada, enquanto que no PS falta continuidade”. O professor catedrático elabora: “Dá trabalho estar nas redes sociais, ganha votos, e sobretudo ganha opinião, mas é preciso saber usar.”
Quanto à presença de partidos e políticos no Instagram, Adelino Maltez é da opinião que, face aos números modestos de seguidores (ver em baixo), “mais valia fechar” porque “se não ultrapassa os dez mil, não tem penetração”. E dá uma ideia aos partidos: “É preciso entregar isso a miúdos que saibam o que estão a fazer, as empresas de comunicação contratadas pelos partidos incluem várias plataformas para justificar o que cobram.”
Legislativas aos quadradinhos
Já no Instagram, António Costa é @costaps2015 e a coligação encabeçada por Pedro Passos Coelho é @portugalafrente.pt. A menos de dois meses das eleições legislativas, marcadas para 4 de Outubro, as duas contas têm números semelhantes. Costa publicou 50 fotografias desde o dia 3 de Agosto, Passos tem 43 a contar de 8 de Julho — veredicto em likes dessa primeira fotografia: 55 contra 15, respectivamente.
Só com este insta inaugural já é possível descortinar várias diferenças de postura. A foto de Costa foi previamente tratada e posteriormente carregada para a aplicação sem filtros. A de Passos Coelho tem o Ludwig, um dos filtros introduzidos pelo Instagram em finais de 2014. Estilisticamente, o antigo autarca de Lisboa aparece descontraído, posando na praia com alguns veraneantes anónimos. Um deles, uma mulher com um biquíni cai-cai, tira a selfie. Não há descrição, apenas hashtags e um geolocalizador: a praia é na Figueira da Foz. No entanto, o aspecto mais interessante, porque se prolonga em todas as 49 fotos seguintes, é o facto do candidato socialista não subir fotografias quadradas. Costa aparece sempre em enquadramentos rectangulares, com margens brancas que se diluem no fundo da aplicação.
No insta de abertura do primeiro-ministro vemos Passos Coelho sozinho num palco, de fato e gravata, a ser saudado por militantes do PSD e do CDS-PP. A descrição dessa fotografia é uma citação do próprio, hashtags só a do lema que também dá nome à conta. Nas fotos seguintes continuamos a ver momentos da campanha da coligação (também há uma foto com margens brancas), mas encontramos um uso novo em relação ao Instagram do adversário socialista. Produção de vídeos: são 16 pequenos clipes que tanto anunciam uma entrevista de Passos Coelho na SIC, como funcionam como mini tempos de antena gráficos.
Em termos de feedback, @costaps2015 conta com 364 seguidores e @portugalafrente.pt com 244, seguindo por sua vez 334 e 122 utilizadores, respectivamente. A foto com mais likes da coligação, 36, é um retrato de Assunção Cristas, e do já famoso vestido de pêras, com Teresa Morais, secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares. No “feed” do rival, há duas fotos com 83 likes. Numa delas, Costa ri despreocupadamente a bordo de um barco, a outra é um “outdoor” em Lisboa com a cara do secretário-geral do PS.
O “engagement” das novas contas para a campanha, por seu lado, é quase inexistente uma vez que nenhuma publicação da campanha de Passos Coelho foi comentada. Costa tem números melhores, ainda que modestos, com 11 comentários espalhados por oito fotografias.
Nos outros partidos, e o Tribunal Constitucional reconhece 23, a presença no Instagram varia. O PCP, leia-se CDU, não tem conta, mas está previsto que venha a ter ainda para estas eleições legislativas. O CDS-PP (@cds_pp) está no Instagram desde Março de 2015 e já publicou 138 vezes — o partido do vice primeiro-ministro Paulo Portas tem a curiosidade de ter uma conta Vimeo com quase dez mil vídeos, muitos deles de “clipping” televisivo. O Bloco não tem Instagram, mas Catarina Martins, o seu rosto mais conhecido, está em @catarina_smartins desde o último mês de Abril e o jornal Esquerda.net (@esquerda_net) desde 2012.
É curioso notar que PS e PSD marcam ainda presença através das contas de núcleos regionais, como no caso do PSD Arouca (@psdarouca) ou do PS Bragança (@ps_braganca_legislativas_2015). Um facto, de resto, destacado por Adelino Maltez que explica que “os intermediários”, figuras locais ou pessoas com forte presença online, “são por vezes mais importantes do que as próprias páginas oficiais”.
A campanha prossegue até ao dia 2 de Outubro. Na rua e na internet.