Como é que alguém consegue compreender uma pessoa? Tornando-se nela, claro. É assim que pensa Will Brooker, um professor universitário que, durante 12 meses, está a encarnar David Bowie.
O objectivo é perceber melhor o trabalho e a vida do músico. No final, o professor quer escrever uma dissertação sobre David Bowie e as suas obras. Para isso, está a transformar-se em todas as personagens que Bowie criou durante a sua carreira de cinco décadas, como as de Ziggy Stardust ou The Thin White Duke.
O professor da Universidade de Kingston, em Londres, adoptou os hábitos alimentares de Bowie, leu os mesmos livros e visitou os mesmos sítios que a estrela. “A ideia é habitar na cabeça de Bowie, perceber melhor a sua vida e carreira, de uma forma original, mas mantendo sempre uma perspectiva crítica e objectiva”, explica Will Brooker.
Para este projecto, o professor veste-se com roupas semelhantes às da estrela, aplica a mesma maquilhagem e até experienciou a privação do sono. Will vai também adoptar alguns dos hábitos mais esquisitos do artista, como a dieta de leite e pimentos vermelhos que Bowie fez durante os anos 70. “Estar na cabeça de Bowie pode ser algo estranho e perigoso para se fazer, algo que não quero por muito tempo”, admite Will.
Mas, há aspectos da vida do músico que o professor não quer adoptar: “É possível fazer este projecto sem envolver-me em experiências perigosas. Os níveis de cocaína que Bowie consumia, não são só ilegais para um professor como eu, como também são muito caros e prejudiciais à saúde. Eu bebo seis latas de bebidas energéticas para simular a experiência”.
David Bowie é ele próprio uma personagem. O seu nome verdadeiro é David Robert Jones, nasceu em Londres, em 1947 e, em tenra idade, apaixonou-se pela música, pela arte e pelo desenho. Bowie é músico, produtor musical, actor, pintor e é conhecido como o “camaleão do rock”, por renovar a sua imagem frequentemente e por reinventar o seu estilo, música e hábitos.
No início dos anos 70, mudou o seu pseudónimo para Ziggy Stardust. Com a mudança do nome, veio também a mudança do estilo de música. Apresentou-se mais extravagante, com o cabelo pintado de vermelho e maquilhagem azul, exagerada para encarnar um músico messiânico no auge do “glam rock”. Anos mais tarde, apareceu ao público como The Thin White Duke, que como o nome indica, mais magro e pálido, na altura da gravação de “Station to Station”, e após o seu “flirt” com a “soul music” e com o consumo de coca.
São estas e todas as outras etapas da carreira do “camaleão” que Will Brooker quer viver todos os dias durante um ano. Começou o seu projecto retratando o David Bowie de 1974: “Por muito que odeie esta maquilhagem e este cabelo”, confessa o professor de 45 anos no twitter, “parece-me que são necessários para o projecto”.
Will Brooker é o autor de vários livros da cultura popular como “Batman Unmasked”, “Using the Force” e “Alice's Adventures”. A próxima monografia será sobre este projecto, “Forever Stardust: David Bowie across the Universe”.