Manifestações a favor de Dilma também são protestos contra o Governo

Base de apoio tradicional ao Partido dos Trabalhadores brasileiro fracturou-se. Cortes e impeachment são ambos motivos de insatisfação.

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Segundo a imprensa brasileira, viram-se menos sinais de apoio a Dilma na quinta do que é habitual Ricardo Moraes/Reuters

Os protestos centraram-se em São Paulo, tal como aconteceu nos movimentos contrários de domingo. De acordo com o instituto de estatísticas Datafolha, a manifestação de quinta-feira reuniu perto de 37 mil pessoas, que se comparam às 135 mil do pico dos protestos do fim-de-semana – estes, por sua vez, conseguiram menos de metade das pessoas que em Março.

Mas, sinal da degradação da imagem de Dilma Rousseff, mesmo na sua tradicional base de apoio, viram-se menos manifestações a favor da Presidente do que em protestos semelhantes nos últimos meses. Apesar de se avistarem alguns cartazes com a cara de Dilma – e até com Vaccari Neto, o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) detido por ligações ao caso Lava-Jato – o tom geral era de protesto contra “o golpe”, termo crítico ao impeachment, e, sobretudo, contra o programa de austeridade do Governo de Dilma.

A defesa do Governo, aliás, gerou fracturas entre os 26 grupos. Os movimentos e sindicatos próximos ao PT queriam atacar mais ostensivamente os defensores do impeachment, mas a opinião dos movimentos mais distantes do Governo, como o influente Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), acabou por definir o tom principal como “a crítica aberta ao ajuste e a redução dos direitos trabalhistas”, escreve o El País.

Nas palavras de Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST: “Não se pode ter uma visão simplista de que o protesto do dia 16 foi de ‘fora Dilma’ e desse dia 20 é de ‘viva Dilma’. Não é.” Isto porque, assegura, o protesto foi contra os cortes orçamentais e, também, contra a possibilidade de um governo mais conservador. “Não achamos que isso seja uma saída para o povo brasileiro”, explica, citado pelo El País.

O protesto de quinta-feira, aliás, atacou sobretudo duas pessoas, uma do Governo de Dilma e outra que, apesar de pertencer ao segundo partido da coligação, faz-lhe oposição no Congresso. Respectivamente: Joaquim Levy, ministro das Finanças e figura dos cortes orçamentais, e Eduardo Cunha, presidente da Câmara de Deputados.  

Os números sustentam esta interpretação. O Datafolha avança que apenas metade (54%) dos manifestantes avaliava positivamente o Governo, contra 25% que o consideram normal e 20% que o classificaram negativamente. Em termos nacionais, a taxa de aprovação de Dilma está abaixo dos 10%. O instituto realizou mais de 1200 entrevistas no próprio dia e estima que a margem de erro não seja mais que 3%.

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