Morreu António Gaio, director do Cinanima - Festival de Animação de Espinho

Tinha 90 anos e continuava a trabalhar no Cinanima, cuja direcção assumiu em 1980. Deve-se-lhe ainda uma História do Cinema Português de Animação que é ainda hoje uma referência.

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Nelson Garrido

O funeral de António Gaio, que ainda interveio na preparação da 39.ª edição do Cinanima, que irá decorrer em Novembro, terá lugar no domingo e partirá da igreja matriz de Espinho, onde será celebrada uma missa às 10h30.

Além das décadas de trabalho como director do Cinanima, funções que mesmo nos últimos anos estavam longe de ser honorárias – “não se fazia nada que não passasse por ele”, disse ao PÚBLICO o cineasta Abi Feijó –, António Gaio deixa ainda uma obra de referência sobre a animação portuguesa, publicada no contexto da Porto 2001: História do Cinema Português de Animação – Contributos.

“É ainda hoje o grande livro que temos sobre a história da animação portuguesa”, diz Abi Feijó. Sem esquecer o mérito de pesquisas anteriores, nas quais António Gaio pôde apoiar-se, o autor de Os Salteadores (prémio especial do júri no Cinanima de 1993) elogia o “grande trabalho de levantamento das origens da animação portuguesa” empreendido por Gaio.

Deve-se-lhe ainda, lembra Feijó, “a identificação dos desenhos do primeiro filme de animação feito em Portugal”, permitindo que este viesse a ser reconstituído. Um coleccionador encontrou-os num alfarrabista, conta o realizador, e levou-os a António Gaio, que reconheceu estar perante os desenhos que serviram de base ao desaparecido filme O Pesadelo de António Maria, realizado em 1923 por Joaquim Guerreiro.

Uma descoberta que permitiu depois ao realizador e produtor Paulo Cambraia, com a inevitável margem de incerteza de um projecto deste tipo, reconstituir o filme original, cuja importância, observa Feijó, não decorre apenas do seu estatuto de primeiro filme de animação português, mas de ser também “um dos primeiros filmes de animação políticos da história do cinema mundial”. O António Maria do título é o então presidente do ministério António Maria da Silva, que foi seis vezes chefe de Governo.

Nascido em Espinho no dia 18 de Julho de 1925, António Ferreira Gaio era filho de um casal que possuía uma padaria, e enquanto fazia o liceu em dois colégios locais (frequentou primeiro o Pedro Nunes e depois o de S. Luís), era frequente ter de se levantar às três da manhã para ajudar o pai a meter no forno a primeira fornada de broa, conta-se num documentário realizado em 2012, por ocasião de uma homenagem que lhe foi prestada no Centro Multimeios de Espinho, cuja sala de cinema foi então rebaptizada com o seu nome.

Mas foi também o pai que lhe transmitiu o gosto pela BD, comprando-lhe as revistas da época, como O Senhor Doutor e O Mosquito, enquanto a mãe o levava ao cinematógrafo e alimentava o seu fascínio pelo cinema.

Bancário de profissão, as actividades culturais e associativas foram sempre a sua verdadeira paixão, tendo sido dirigente do Sporting Clube de Espinho e da Associação Académica de Espinho e, depois do 25 de Abril, da Cooperativa Nascente, responsável pelo Cinanima. Teve ainda vasta colaboração na imprensa local, tendo ocupado diversos cargos em jornais como o Defesa de Espinho ou o Maré Viva, de que foi fundador.

A seguir ao 25 de Abril, integrou a comissão administrativa da Câmara Municipal de Espinho, da qual veio a ser, em 1977, vereador da Cultura. Mas a tarefa da sua vida, iniciou-a em 1980 ao assumir a direcção do Cinanima. Em 1996, Espinho atribuiu-lhe a medalha de honra da cidade, e no ano seguinte recebeu das mãos de Jorge Sampaio a Comenda de Mérito Cultural.

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