Alemanha abre caminho a entrega de primeira tranche à Grécia

Debates nos parlamentos alemão e holandês mostram oposição a empréstimo ao país. Em Atenas fala-se da possibilidade de eleições antecipadas.

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Coube a Schäuble defender o empréstimo à Grécia no Parlamento Axel Schmidt /Reuters

Em Berlim, a imprensa tinha dramatizado a força da possível oposição à medida entre os deputados do próprio partido da chanceler, a União Democrata-Cristã (CDU) e o seu partido-gémeo da Baviera (CSU). O empréstimo passou com uma maioria de 454 votos a favor, 113 contra e 13 abstenções. Dos deputados da CDU, 63 votaram contra.

É uma rebelião considerável, a maior do campo conservador – nunca tantos deputados tinham votado em sentido contrário ao do Governo, embora os media notem que ninguém criticou directamente o Executivo. O Financial Times lembra que a oposição dos conservadores a empréstimos à Grécia cresceu de quatro deputados na votação de 2010 até aos actuais 63.

A proposta, tecnicamente do ministério das Finanças, foi assim defendida no hemiciclo por Wolfgang Schäuble, com a chanceler presente mas sem discursar. A decisão de apoiar a Grécia “não foi fácil” disse Schäuble, que ainda recentemente defendia uma saída temporária do país da zona euro, e “não há garantia de sucesso”, admitiu. No entanto, “se a Grécia cumprir as suas obrigações e o programa for concretizado de modo completo e resoluto, a economia pode crescer de novo”, defendeu. “A oportunidade existe. Se será usada, só os gregos podem decidir”. Assim, seria “irresponsável” não apoiar o programa, disse o ministro.

O principal opositor aos empréstimos da CDU, o deputado Klaus-Peter Willsch, questionou “porque se bate duas vezes com a cabeça na parede?”, sugerindo que seria altura de “tentar ver se não há uma porta”. A porta “seria a Grexit”, a saída da Grécia do euro.

No Parlamento holandês, o Governo defendeu o acordo enquanto criticava o Governo que o deverá concretizar. “A Grécia teve décadas de más políticas e seis meses de caos completo”, disse o ministro das Finanças, Jeroen Dijsselbloem, que é o líder do Eurogrupo.

Dijsselbloem disse ainda que o seu Governo não defende um perdão da dívida e que acredita que a participação do Fundo Monetário Internacional no programa será possível mesmo sem redução da dívida.

A incógnita FMI
O FMI não se comprometeu a participar no programa e repetiu que um alívio de dívida, que chegará em breve a 200% do PIB, é condição sine qua non para o fazer.

A Alemanha (e a Holanda) dizem que a participação do FMI é essencial, no entanto, afastam um cenário de alívio de dívida, falando antes de alguma margem para prolongamento de prazos. “A previsão do FMI é mais pessimista do que a nossa”, disse Dijsselbloem, antecipando uma forma de compromisso.

O Financial Times comentava ainda que a discussão no Bundestag deixou claro que será muito difícil à Alemanha aprovar mais medidas vistas como benevolentes para a Grécia, incluindo medidas em relação à dívida.

Tentando apaziguar dúvidas sobre o cumprimento por parte do Governo grego, o programa será acompanhado de avaliações rigorosas, e as tranches só serão libertadas após a avaliação do cumprimento das medidas. A próxima avaliação é em Outubro, quando será discutido o alívio da dívida.

Em Atenas, o Governo continua com a missão de concretizar as medidas que muitos dizem ser impossíveis, de tão duras, ainda por cima com o principal partido do Governo partido após a aprovação no Parlamento grego do plano dos credores no final da semana passada.

Analistas tentam adivinhar o que fará o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, que não tem sido um político com acções fáceis de antecipar – desde a escolha de um partido populista nacionalista para seu parceiro de coligação até à convocação de um referendo e finalmente à defesa de um plano de austeridade por não haver melhor hipótese.

Em Atenas fala-se de eleições
O analista Nick Malkoutzis, do site Macropolis e do diário Kathimerini, nota que apenas 118 deputados de entre os 162 da coligação do Governo votaram a favor do plano que permitirá o empréstimo dos credores – abaixo da barreira dos 120 necessária para sobreviver a um voto de confiança no Parlamento. “A maioria das pessoas pergunta como pode o país ir a eleições no Outono”, depois de legislativas em Janeiro e um referendo em Junho, diz Malkoutzis. “A questão será talvez como é que o país, e especialmente o primeiro-ministro, pode não ir a eleições.”

Com o Syriza partido e a aprovação de um plano semelhante ao que foi recusado em referendo (é difícil comparar, mas prevalece a ideia de que se disse "não” à austeridade e se acabou com “sim” a três anos de austeridade), o cenário de se formalizar a divisão e permitir aos eleitores dizerem se confiam em Tsipras levaria a uma situação mais clara.

Até agora, parece que apesar de tudo o primeiro-ministro continua a gozar da confiança dos gregos. A última sondagem de 24 de Julho dava-lhe um apoio de 61%, mas com o Verão a afastar os gregos de Atenas, as empresas de sondagens deixam de conseguir amostras suficientes para inquéritos, diz a Reuters.

Ir a eleições mais cedo teria várias vantagens para Tsipras, enumeram os analistas – aconteceria antes de a sua popularidade começar a descer, apanhava os rivais dentro e fora do partido com menos tempo para se prepararem (a Plataforma de Esquerda, que sairia do Syriza, teria de formar um partido em tempo recorde) e o eleitorado com menos consciência dos efeitos das medidas de austeridade agora aprovadas.

Dimitris Rapidis, do centro de estudos Bridging Europe (de Atenas), conclui que o cenário mais possível não é o encerramento do Parlamento para férias e nem sequer um voto de confiança: são mesmo eleições antecipadas.

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