Teresa Lago vai dirigir a União Astronómica Internacional a partir de 2018

Portugal também vai acolher um centro de divulgação da astronomia em língua portuguesa, para todos os países lusófonos.

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Da esquerda para a direita: Ewine van Dishoeck, Silvia Torres-Peimbert, Piero Benvenuti e Teresa Lago UAI
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Teresa Lago em 2001, quando presidia à Sociedade Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura Nelson Garrido

Além da eleição da astrónoma portuguesa, noticiada pela agência Lusa, no Havai elegeu-se ainda a próxima presidente da UAI — a holandesa Ewine van Dishoeck, que assumirá funções igualmente entre 2018 e 2021. Até 2018, Teresa Lago e Ewine van Dishoeck funcionarão como adjuntas.

Esta última assembleia geral da UAI, que terminou na sexta-feira, marca ainda o início de funções, até 2018, dos actuais dirigentes da organização e que tinham precisamente sido eleitos há três anos: o italiano Piero Benvenuti como secretário-geral, e a mexicana Silvia Torres-Peimbert como presidente.

Quem desempenha as funções de secretário-geral da UAI tem poder executivo e, em colaboração com o presidente e os dois adjuntos, toma decisões estratégicas e faz propostas à assembleia geral.

“Fiquei contente e surpreendida também”, diz-nos Teresa Lago sobre a sua eleição, votada em plenário na assembleia geral da UAI depois de o seu nome ter sido escolhido pelos dirigentes da organização. “Não há muitas mulheres que tenham ocupado este lugar. Que me lembre, houve apenas uma secretária-geral, Jacqueline Bergeron. Sendo nós de um país muito pequeno e sendo este um convite pessoal, fiquei satisfeita.”

O astrónomo português Pedro Russo, que esteve na assembleia geral no Havai, considera merecida a escolha. “Significa um reconhecimento da professora Teresa Lago e também da astronomia portuguesa, que se desenvolveu muito nas últimas décadas”, frisa Pedro Russo, da Universidade de Leiden (Holanda) e presidente da Comissão de Divulgação da Astronomia da UAI.

Como exemplo desse desenvolvimento, a astronomia é a área de investigação em Portugal com maior impacto internacional: tem a média mais alta de citações por artigo científico, um indicador da importância desse trabalho.

Professora catedrática da Universidade do Porto, de onde está agora reformada, Teresa Lago licenciou-se aí em 1971 em Engenharia Geográfica, a única licenciatura que “tinha alguma astronomia”. Em 1979, doutorou-se em astronomia na Universidade de Sussex, no Reino Unido.

Na Universidade do Porto, foi responsável pela criação da licenciatura em Astronomia, em 1983, e pelo programa de doutoramento em astronomia, em 2003. Em 1988, fundou o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, que dirigiu durante 18 anos, e que no início deste ano se fundiu com o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, nascendo então o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, agora a maior instituição de investigação do país nesta área.

Um centro para a lusofonia
Teresa Lago também teve um papel importante na política científica na área da astronomia. Em 1987, preparou o Plano Nacional para o Desenvolvimento da Astronomia, a pedido da Junta de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT, que antecedeu a Fundação para a Ciência e a Tecnologia), dirigida por José Mariano Gago entre 1987 e 1989.

Ainda nessa altura, Teresa Lago preparou a proposta de associação de Portugal ao Observatório Europeu do Sul (ESO), uma organização intergovernamental de investigação astronómica, com sede na Alemanha e grandes telescópios no Chile. Em 1990, o acordo de pré-adesão ao ESO era assinado e uma maneira de homenagear o país por essa decisão foi dar a um asteróide, que orbita entre Júpiter e Marte, o nome Portugal. Ao fim de dez anos de cooperação — com um programa de apoio a projectos de investigação, infra-estruturas, formação e acesso de cientistas portugueses aos telescópios no Chile —, Portugal aderia ao ESO.

Durante vários anos, e até 2013, Teresa Lago foi membro do Conselho do ESO, o seu órgão governativo e de decisão máxima. E, a nível da União Europeia, entre 2005 e 2013 esteve no conselho científico do Conselho Europeu de Investigação — ou ERC, criado para financiar a investigação de topo na Europa.

Mas em Portugal Teresa Lago também desempenhou outras funções para lá da astronomia e da política científica. Foi presidente da Sociedade Porto 2001 — Capital Europeia da Cultura, entre 1999 e 2002.

Nos últimos tempos, tem estado envolvida numa grande reforma, com fusões, das universidades e centros científicos em França, integrando a dezena de peritos internacionais que acompanham o processo.

Agora vai estar à frente da principal organização mundial de astronomia, fundada em 1919 e sede em Paris. A UAI é a autoridade internacional que atribui oficialmente os nomes aos corpos celestiais ou que define a nomenclatura astronómica. Teresa Lago recorda que a despromoção de Plutão, de planeta principal a planeta-anão em 2006, ou a definição do que é um planeta couberam à UAI. “Agora foi tomada a decisão de proteger comprimentos de onda na banda de rádio, para serem usados nas observações astronómicas e não haver interferências com os sinais que recebemos”, refere, acrescentando que foi ainda criado um grupo encarregado de negociar com os governos a protecção do céu nocturno, através do controlo da iluminação das cidades.

A reunião da UAI trouxe outra novidade para Portugal. Assinaram-se acordos de criação de cinco novos centros de astronomia para o desenvolvimento em vários locais do planeta — um deles ficará em Portugal e dedicar-se-á à divulgação científica na área da astronomia na língua portuguesa, em todos os países lusófonos. O futuro Centro da Língua Portuguesa será acolhido pelo Núcleo Interactivo de Astronomia (Nuclio), em colaboração com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.

Assinou-se ainda a criação de um centro para divulgação da astronomia na língua árabe, na Jordânia, enquanto os restantes três centros (Arménia, Nigéria e Colômbia) vão usar a investigação científica para promover o desenvolvimento dessas regiões. Desde 2012, quando foi criado o Gabinete de Astronomia para o Desenvolvimento (na Cidade do Cabo, África do Sul), uma aposta nova da UAI, já foram estabelecidos centros regionais e/ou ligados à língua na China, Tailândia, Etiópia e Zâmbia.

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