Em 1978, os radioastrónomos Arno Penzias e Robert Wilson receberam o Nobel da Física por terem descoberto o sinal fóssil que prova que o universo começou numa explosão. A história da descoberta é recordada agora numa banda desenhada. "Cosmicomix", publicada este mês em Portugal pela Gradiva, é uma obra de banda desenhada assinada pelo astrofísico Amedeo Balbi e pelo desenhador Rossano Piccioni, ambos italianos, e descreve as teorias e investigações científicas ao longo do século XX que levaram a uma explicação comprovada sobre o "Big Bang", as origens do universo.
O livro, no qual surge o físico Albert Einstein, o matemático Alexander Friedman ou o astrónomo Edwin Hubble, foi publicado originalmente em 2013 e a edição portuguesa tem revisão científica do físico Carlos Fiolhais. "Todo o imenso universo que conhecemos esteve comprimido em algo do tamanho... de quê? De um átomo?", pergunta Albert Einstein numa conversa com o sacerdote Georges Lemaître, em Bruxelas em 1927, recriada no livro.
Ao longo da obra, o autor da banda desenhada vai explicando, "com a maior fidelidade e rigor possíveis", as teorias que foram sendo desenvolvidas — complementares e opostas — sobre o universo. "A ciência que encontramos neste livro é correcta e reflecte os nossos conhecimentos actuais de cosmologia", escreve Amedeo Balbi no posfácio.
Todas as personagens que surgem na banda desenhada são figuras de destaque da investigação científica e algumas estão ainda vivas. Os autores recorreram a artigos, livros, entrevistas, depoimentos, para reconstituírem os passos de todos, nas cenas retratadas. Ao longo de 150 páginas, explicam, por exemplo, a teoria defendida nos anos 1940 por Fred Hoyle, Hermann Bondi e Thomas Gold, da criação contínua de matéria no universo — que não prevê nenhum momento inicial — e a teoria de Alexander Friedmann, Georges Lemâitre e George Gamow, que pressupõe que houve uma explosão que levou ao aparecimento de matéria.
Sem provas, estes três cientistas previram que essa explosão, o "Big Bang", teria de ter deixado um resíduo "sob a forma de radição térmica". A demonstração desta teoria só aconteceu na década de 1960, com Arno Penzias e Robert Wilson, que conseguiram medir, através de uma gigante antena rotativa, esse "sinal fóssil" transmitido pela universo, quando da explosão inicial.
"Uma fracção minúscula do zumbido que ouvimos quando sintonizamos uma rádio entre duas estações provém de há quase 14 mil milhões de anos. Tínhamos encontrado a prova decisiva da existência de um big bang", afirma Arno Penzias, o narrador desta obra. No epílogo, o autor Amedeo Balbi recorda que "a descoberta da radiação cósmica de fundo por Penzias e Wilson marcou uma linha divisória na nossa compreensão do Universo: há um antes e um depois", embora "Cosmicomix" se tenha concentrado no primeiro.