Será que se justifica fazer balanços de contas das amizades que mantemos? No fundo, trata-se de capital valioso: capital social. Em plena era capitalista será o valor das amizades tão volátil como o dos outros capitais?
Ao longo da nossa vida investimos tempo em criar e aprofundar amizades, especialmente aquelas que nos parecem trazer mais valor acrescentado, aquelas que nos fazem sentir bem em todos os sentidos. Fazemo-lo especialmente quando somos mais novos, pois é quando temos mais disponibilidade para investir tempo. Mas essas amizades não duram para sempre. Umas perdem-se, por motivos vários. Outras, simplesmente, desvalorizam-se tanto que as deixamos cair.
Tal como os capitais bolsistas de um investidor, o capital social de uma pessoa insere-se em redes complexas e dinâmicas de relacionamentos. Trata-se de um sistema complexo em que o investidor muda também. Nós mudamos e nem sempre as nossas amizades acompanham essas mudanças de vida. Ou seja, a culpa desta desvalorização potencial não tem responsável único e evidente. Todos contribuem, incluindo a conjuntura.
Lembrem-se dos vossos amigos lá da terra ou do bairro, depois os da escola, das várias atividades que desenvolveram, os da universidade e do trabalho. Muitas dessas amizades tinham imenso valor em determinado contexto e momento, depois deixaram de ter. Talvez seja por egoísmo, falta de esforço em investir nelas, mas as amizades morem naturalmente. Depois temos a família, especialmente aquela que fundamos, sendo mais uma competidora pelo tempo disponível e necessário para cuidar de todas as amizades acumuladas. Por vezes falta até tempo para nós mesmos, quanto mais para os amigos já distantes. A vida muda e mudamos sem saber, tal como mudam todos os outros. Com tantas mudanças perdemos as semelhanças e o que tínhamos em comum com os nossos velhos amigos. Fatalmente, só com esforço se podem manter as amizades entre esses novos estranhos.
Com toda a pressão da vida adulta, que exige cada vez mais tempo e disponibilidade, para os projectos profissionais, pessoais, familiares e outros, será que ainda temos tempo para investir na aproximação a todos aqueles com quem tivemos tanto em comum durante a vida que passou? Ou será que simplesmente mais vale partir para outras amizades, ainda que não tenhamos tempo para as semear e sabendo que eventualmente podem também vir a morrer?
Mesmo sendo um valor imprevisível, não conseguimos viver sem atribuir às amizades valores mínimos, que se relacionam com a condição humana de animal social que faz naturalmente amizades e delas sempre depende, nem que seja um pouco, para viver feliz.