Verão na praia em volta da piscina

O Sandhouse, no “rés-da-praia” do Edifício Transparente, no Porto

Foto
Paulo Pimenta

O nome tem casa e areia, mas, na verdade, na esplanada da Sandhouse não há areia, há madeira, ao estilo de deck e é mais fácil imaginarmos um barco a rasgar as águas do Atlântico aqui tão perto. O Castelo do Queijo espreita à esquerda, para lá das palmeiras, do areal, da maré baixa, do lado direito, bem ao fundo, o novo terminal de cruzeiros de Matosinhos é como um caracol deitado, branco, mas, aqui, este “barco” não vai de partida. Na verdade, aqui, no “rés-da-praia” do Edifício Transparente, o bom mesmo é ver navios a passar, por estes dias com sabor a Verão e banhos de sol a condizer, com o mar a dois passos e a “piscina” à mão.

Há quem esteja de biquíni, há roupas mais ou menos formais — é um dia de semana, estamos na praia, estamos na cidade e o Sandhouse, bar, restaurante e clube, que abriu no início de Julho, vive dessa (e para essa) ambiguidade. Dizem-nos que os mais ousados entram na piscina — na verdade é um espelho de água —, sentam-se (a altura é mínima) e desfrutam aí das suas bebidas, usando o rebordo como mesa. Hoje não o vemos, vemos apenas quem se sente nas almofadas azul forte que debruam o bordo da piscina-espelho-de-água, alguns com as pernas a refrescar dentro. Ernesto Pereira, um dos três sócios do Sandhouse, refere que o “espelho de água” (faz questão de sublinhar) é de “uso moderado”: como há pessoas a tomar refeições em volta, muitas vezes sem roupa de banho, a ideia é preservá-las. Usando-a ou não, a piscina, estreita, comprida, é indubitavelmente o ponto central da esplanada, o factor “wow” e foi propositadamente pensada assim. Foi Ernesto Pereira, arquitecto, quem desenhou o espaço mesmo antes de saber que ia acabar como sócio. Ângelo Lima pediu-lhe para fazer algo que se destacasse, algo à semelhança da SilverWoodHouse que o jovem arquitecto (re)construiu no Mindelo e lhe valeu reconhecimento internacional. Com essa premissa se partiu para esta Sandhouse, que tem o toque do arquitecto não só na estrutura do espaço como no design do mobiliário e na decoração.

A nortada (que rima com Verão nestas paragens) obriga os guarda-sóis cor de linho a manterem-se recolhidos. O sol derrama-se sem pedir licença sobre a esplanada, quase cheia — a única sombra pode ser conseguida nas camas que se alinham de um dos lados da piscina, para além de mesas, mas ninguém as ocupa: os dosséis de madeira simples, cobertos de tecidos brancos, estão apenas povoados de almofadas. São as mesas que ocupam grande parte do espaço, “árvores”, chama-lhes Ernesto Pereira, que as desenhou e ajudou a executar na empresa familiar — o pé divide-se em ramos sobre os quais assentam o tampo, a copa, portanto, em contraplacado marítimo —, rodeados de cadeiras de braços e estofadas, como sofás; há ainda cadeiras de lona e um bar, quadrado, no topo da piscina (o mesmo onde está instalado um balcão onde ocasionalmente se cozinha à laia de show cooking). Em pouco tempo, da cozinha começarão a sair petiscos para a mesa que se une em torno da sangria de vinho tinto, que vem numa jarra e se serve com uma concha — distinguimos os ovos rotos com cogumelos e bacon entre os pratos que vão passando, todos com a assinatura do chef Elísio Bernardes (pode ter passado o magret de pato com batata doce, a cura de peixe ou alguma das propostas “entre duas fatias”, as sandes, versão cogumelos e queijo da ilha ou mozarella e tomate, por exemplo).

Foto
Paulo Pimenta

A música vai soando em modo baixo, tão baixo que o ruído do mar, da praia, dos passeantes se sobrepõe. Jazz, nu jazz e chill-out são a dieta recomendada durante os dias, excepto aos domingos, com os pores do sol acompanhados por música brasileira, ao vivo. Pelo menos nestas primeiras sessões e nós chegamos no dia seguinte à primeira. Para a próxima, amanhã, portanto, o desafio é que a banda toque dentro de água, diz Ernesto. No primeiro não tocou, o pôr do sol entrou pela noite e prolongou-se mais do que o esperado, por isso, hoje, o interior do Sandhouse ainda está a recompor-se.

Estamos no interior mas as paredes azuis claras puxam o céu para dentro, puxam a água, puxam a praia. Começam a colocar-se as mesas num local que poucas horas antes havia sido uma pista de dança em tamanho grande. Mas essa é uma situação de excepção. O interior do Sandhouse por estes dias pode parecer um excesso, mas passe o Verão e ganhará, com certeza, outro protagonismo. Bar de um lado, em torno de um balcão quadrado que abraça uma “árvore” feita de troncos que deram à costa perto da casa de Ernesto Pereira (estes são um elemento comum na decoração: compõem também candeeiros, dentro e fora), restaurante do outro, com outro balcão, este corrido, no mesmo estilo — madeira de pinho claro e rebordos brancos, para compor a imagem rústico-chique em tons de beira-mar que é a do Sandhouse. Claro que estes espaços não são estanques e as mesas do restaurante também são do bar, a mesa do DJ (embutida num tronco grosso) também está deste lado, acompanhando a “pista de dança”.

Funcionando desde a manhã, o Sandhouse vai-se adaptando ao passar das horas, não temendo metamorfoses mais ou menos radicais. Ao ponto de poder fechar em ritmo clube madrugada bem instalada — e aos fins-de-semana é esse o objectivo, com o DJ residente (Nelson Rivviera) ou convidados a servirem deep house e derivados. Nestes meses estivais, as noites longas começam à quarta-feira, mas todos os dias são dias longos aqui à beira-mar. E com as metamorfoses como parte do ADN do Sandhouse, quem sabe se a areia não chegará mesmo até aqui? Pôs-se de parte por poder causar incómodo a quem não vem da praia, mas Ernesto Pereira não o descarta. É ir passando para ver.

Sugerir correcção
Comentar