Polícia angolana diz que não deteve manifestantes, só os “recolheu” temporariamente

Detidos na quarta-feira foram soltos horas depois. Os que estão em prisões de Luanda há mais de um mês continuam na cadeia, sem acusação formada.

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Em Lisboa, também se pediu a libertação dos activistas detidos Daniel Rocha

Trinta e três activistas e quatro jornalistas foram detidos, segundo o site Maka Angola, do jornalista e activista Rafael Marques. “Crime?" Protestarem, ou noticiarem o protesto, convocado para o Largo da Independência, contra a detenção, sem acusação formada, há mais de um mês, de dezena e meia de activistas a quem as autoridades atribuem a intenção de fazer um golpe de Estado.

Contactado pelo PÚBLICO esta quinta-feira, Rafael Marques disse ter indicação de que todos tinham sido deixados em liberdade “em zonas distantes”, logo no dia da detenção, o que confirma a versão policial.

“Depois de identificados numa unidade nossa foram mandados embora. Não, não foram detidos, foram recolhidos só para prevenir alguma alteração da ordem que eles tentavam fazer”, disse à Lusa Engrácia Costa, porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, que não adiantou números.

“Não detivemos ninguém. Estavam a ser recolhidos e a ser direccionados para a casa do David Salei [um activista]”, disse ao Maka Angola o comandante provincial de Luanda, comissário-chefe António Sita.

Os activistas “recolhidos” na quarta-feira, pertencentes ao Movimento Revolucionário, foram abordados pela polícia em momentos e locais diferentes – os primeiros 15 foram interceptados quando estavam a preparar cartazes para o protesto que decorreria a partir das 15h. Mais tarde, ainda antes da hora prevista para a concentração, foram detidos outros 11.

“A maior parte das detenções não foi no Largo da Independência”, disse ao PÚBLICO Rafael Marques,

Mas foram também feitas detenções depois de a polícia ter carregado, recorrendo a cães, sobre algumas dezenas de manifestantes nas imediações do Largo da Independência – para onde fora, paralelamente, convocada uma concentração da JMPLA, organização juvenil do partido governamental, e mobilizado forte aparato policial. O site Rede Angola noticiou que várias pessoas ficaram feridas.

Ao fim da tarde foram igualmente detidos três jornalistas, o que fez subir para quatro o número de detenções de profissionais da informação. Nessa altura foram conduzidos a um posto de polícia o correspondente da Reuters e dois repórteres da Rádio Despertar – estação ligada ao principal partido da oposição, UNITA. Um outro repórter da emissora, destacado para acompanhar os preparativos da manifestação tinha já sido detido, de manhã. A emissora esteve cercada durante parte do dia.

A eurodeputada socialista portuguesa Ana Gomes, que esta semana se deslocou a Angola a convite da Associação Justiça Paz e Democracia, passou pelo Largo da Independência perto da hora marcada para o início do protesto para exigir a libertação de 16 activistas detidos a 20 de Junho, na capital, e de um em Cabinda, há mais de quatro meses. “Não fui, nem vim para ir à manifestação por libertação [de] presos políticos. Mas por acaso passei [pela] Praça às 14h15”, escreveu na rede social Twitter, onde publicou diversas imagens.

Esta quinta-feira, no seu editorial, o Jornal de Angola acusou-a de “apadrinhar os novos planos de subversão contra Angola” e de “interferir em assuntos do foro único do poder judicial angolano e dos órgãos de soberania nacionais”.

Num comentário ao PÚBLICO, a eurodeputada disse que foi convidada a deslocar-se a Angola em Maio e que tem falado com angolanos “de todos os quadrantes e do próprio Governo”,com o qual disse ter tido “discussões francas e substantivas".

Recordou que foi ela quem no PS propôs a adesão do MPLA à Internacional Socialista, o que lhe traz "responsabilidade acrescidas". Mas considera-se “insuspeita de querer interferir na vida interna angolana”. “Se há algumas pessoas que estão a fazer esse tipo de acusações, só demonstram insegurança e inquietação com a situação em Angola.”

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