Críticos de arte repudiam processo que provocou demissão no Museu do Chiado

AICA elogia atitude de David Santos, o ex-director, e da co-comissária Adelaide Ginga, dizendo que levaram "às últimas consequências a defesa da autonomia crítica e da dignidade autoral".

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David Santos fotografado no Museu do Chiado, de cuja direcção se demitiu a 7 de Julho Daniel Rocha

De acordo com um comunicado da direcção da Secção Portuguesa da AICA, atualmente liderada pelo curador João Silvério, a entidade manifesta repúdio "pela condução de um processo onde foram manifestamente violadas as mais fundamentais regras de observância e respeito autoral".

David Santos demitiu-se a 7 de Julho da direcção do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, onde se encontrava há um ano e meio, em ruptura com a tutela da cultura, depois de ter sido revogado um despacho que incorporava a chamada Colecção SEC (Secretaria de Estado da Cultura) naquele museu.

Na altura, David Santos preparava uma exposição baseada nessa colecção, em particular em obras cedidas por protocolo à Fundação de Serralves, que iria marcar a inauguração da primeira fase de ampliação do Museu do Chiado no espaço deixado vago pelo Governo Civil de Lisboa.

Na sequência da demissão, ficou por terminar o projecto expositivo Narrativa de uma Coleção - Arte Portuguesa na Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (1960-1990), a cargo de David Santos e da curadora Adelaide Ginga, tendo sido finalizado por curadores do Museu de Serralves.

Na opinião da direcção da associação de críticos, e com base nas declarações públicas dos curadores da exposição, "bem como a falta de contraditório no que respeita a um dos pontos essenciais em discussão - a saber, a inviabilização de um programa curatorial por inversão unilateral das condições que lhe deram origem, e num prazo que não permitia qualquer negociação ou reavaliação razoável do projecto em execução - a AICA vem manifestar a sua solidariedade e o seu total apoio a David Santos e Adelaide Ginga".

A entidade considera que os dois curadores da exposição, "com evidente prejuízo das suas actividades e percursos profissionais, optaram por contrariar a generalizada lógica da obediência cega e desresponsabilização pessoal, para levar às últimas consequências a defesa da autonomia crítica e da dignidade autoral".

Quando da inauguração, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, foi vaiado por uma centena de artistas, galeristas e curadores à entrada e saída da cerimónia oficial, nas novas instalações no Convento de São Francisco, com entrada pela Rua Capelo.

Para o lugar de David Santos foi nomeado em regime de substituição Samuel Rego, subdiretor-geral do Património Cultural.

Contactada pela agência Lusa sobre a abertura de concurso para a escolha de um novo diretor do Museu do Chiado, fonte da Direcção-Geral do Património Cutlural (DGPC) indicou que "já se iniciou o processo que conduzirá à abertura do concurso".

Trata-se de um concurso para um cargo de direcção intermédio, que não passará pela Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CReSAP), sendo o júri constituído internamente pela DGPC e que será publicado em Diário da República.