Costa Vicentina

Luís Vicente continua a mostrar talento e imaginação, agora em dois novos registos com nomes internacionais.

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Luís Vicente, um trompetista entre a música improvisada (no grupo Deux Maisons) e o jazz mais assumido (no quinteto What About Sam?) Nuno Martins

Com uma formação atípica, o grupo Deux Maisons junta dois músicos franceses a dois músicos nacionais: Vicente (trompete) e Marco Franco (bateria) têm a companhia de Théo Ceccaldi (violino, viola) e do seu irmão Valentin (violoncelo). O quarteto trabalha uma improvisação aberta, sem rede, sustentada por uma instrumentação que se aproxima de uma natureza camarística. E se por vezes se confirma esse lado e a música reflecte a delicadeza dos cordofones, noutros momentos a tensão vai crescendo e transforma-se, cedendo à energia. Em For Sale começamos por ouvir uma percussão perdida. Entram depois as cordas sóbrias, chega por fim o trompete, tudo em modo tranquilo. Chama-se Two balconies esse tema que abre o disco, e rapidamente o tema evolui, com o quarteto a resolver a questão em quatro minutos. Entre o violino de Théo Ceccaldi e o violoncelo de Valentin há uma ligação fácil e o trompete de Luís Vicente junta-se sem pedir licença. A percussão de Franco, geralmente suave, sabe ser intensa quando a música chama, conseguindo definir sem complicar. O quarteto vai desenvolvendo uma música improvisada globalmente interessante, embora por vezes se perca o foco.

Já o quinteto What About Sam? trabalha uma música assumidamente mais jazzística. Neste projecto, o trompete de Vicente tem a companhia de Federico Pascucci (saxofone tenor), Roberto Negro (piano), André Rosinha (contrabaixo) e Vasco Furtado (bateria). O grupo trabalha um jazz feito de composições abertas, com grande margem para a improvisação — os temas são apenas o veículo para os instrumentistas se expressarem. Happy Meal, o disco que agora lançaram, arranca de forma dispersa, com os instrumentos à procura de um caminho. Entra a bateria de Furtado a marcar um ritmo lento, depois chega Negro a atacar directamente as cordas do interior do piano. Aparece uma melodia: trompete, saxofone e contrabaixo juntam-se num uníssono, enquanto piano e bateria continuam o seu trabalho paralelo de pesquisa. Mais tarde entra um solo de saxofone de Pascucci, há espaço para os outros instrumentos encontrarem o seu lugar, volta e meia retomando a melodia central, o trompete de Vicente vai rosnando lá ao fundo e, ao final do tema, encontramos uma perfeita união colectiva. 

Aqueles 13 minutos da faixa inicial, que ao início soam a desnorte mas acabam por desembocar numa encontro irrepreensível, são exemplificativos do entrelaçamento que existe no grupo entre composição e improvisação. Individualmente, são vários os pontos de interesse: o saxofone de Pascucci lança chamas; o trompete de Vicente responde-lhe ao mesmo nível; o piano de Negro está em permanente turbulência; o contrabaixo de Rosinha é uma escora fundamental; e a bateria de Furtado mantém o grupo em ebulição. Happy Meal mostra-nos cinco bons músicos em boa forma. Este é o tempo deles, deixem-nos navegar.

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