O Cemitério Britânico é “uma pérola do Porto” recheada de histórias

O X Ciclo Cultural dos Cemitérios do Porto visitou este sábado o Cemitério Britânico da Igreja de Saint James. A visita guiada permitiu conhecer algumas das histórias e curiosidades que envolvem a comunidade britânica na Invicta.

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O Cemitério Britânico do Porto celebra o segundo centenário Ricardo Castelo/NFactos
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O Cemitério Britânico do Porto celebra o segundo centenário Ricardo Castelo/NFactos
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O Cemitério Britânico do Porto celebra o segundo centenário Ricardo Castelo/NFactos
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O Cemitério Britânico do Porto celebra o segundo centenário Ricardo Castelo/NFactos

o Largo da Maternidade, os muros e o portão em redor da Igreja de Saint James impõem respeito e, para descobrir o cemitério, talvez o melhor seja fazer uma pesquisa antes. Há muita História por detrás destes muros, e a construção denuncia os anos em que a Inquisição em Portugal perseguia as religiões que não a católica.

Já lá dentro, é visível uma grande curiosidade, tanto por parte dos mais pequenos como dos adultos que participam na visita. Entre perguntas a uma das funcionárias da autarquia, ou a Ricardo Delaforce, um dos responsáveis da Igreja de Saint James, muitos vão explorando os cantos da igreja e do cemitério.

Um monumento com uma cruz em frente à igreja apresenta alguns dos nomes britânicos envolvidos na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e cuja homenagem lhes é devida pelos actos que realizaram a favor de Inglaterra e dos Aliados. A mensagem inscrita atesta que muitas histórias estão aí registadas: “Para glória de Deus e de todos aqueles ligados à comunidade britânica no Porto, que deram as vidas pelo seu país”.

A Igreja de Saint James capta as atenções no interior pelos vitrais, sobretudo pelo maior, que está no centro, e veio de Inglaterra. Enquanto cada visitante tira fotografias, outros sentam-se nos bancos do templo. Algumas pessoas discutem o facto de os anglicanos não terem tido uma vida fácil no Porto num passado distante, em que a religião motivava ainda mais polémica do que hoje.

Francisco Queiroz é o guia que tem coordenado muitas das visitas dos ciclos culturais aos cemitérios do Porto. As informações que  o professor apresenta na igreja, e que serão depois demonstradas no cemitério, são retiradas da imprensa da época. E avisa: “Não são só britânicos que estão sepultados aqui”. Desde pessoas da Suécia à Alemanha, o que une as nacionalidades neste local é essencialmente a crença religiosa, mais do que a proximidade geográfica ou os ideais políticos.

Muito do que é dito é colocado em comparação com o catolicismo e os credos vigentes em Portugal. “Na Igreja de Saint James, não estamos a falar de uma paróquia, até porque exteriormente parece uma casa”, nota Francisco Queiroz. Em todo o mundo, os cemitérios britânicos são marcados por uma imagem de petrificação e até de abandono. “Não há romarias, não há flores e não se reza. Muitas das sepulturas eram até identificadas só com um número, antes do século XIX”, explica. Tudo permanece muito rústico e simples, porém existem práticas que se distinguem e que são olhadas com alguma desconfiança por quem está de fora.

“No cemitério britânico de Lisboa, as sepulturas de dois escritores são as obras maiores e existe o culto de beijar os túmulos”, nota Queiroz. Mas já que o cemitério britânico do Porto está mesmo ali, o melhor será ir até lá e conhecer de perto as suas curiosidades e relíquias.

Um corredor encaminha os visitantes para uma urna onde está sepultado John Whitehead, um dos impulsionadores da arquitectura urbanística do Porto e da construção do próprio cemitério. Ricardo Delaforce interrompe a visita para dar a conhecer as sepulturas de combatentes da comunidade britânica. Todas têm o mesmo padrão estético: mármore branco carimbado com o símbolo e a inscrição “Royal Air Force”, e as idades jovens de muitas mortes não passam despercebidas a ninguém. “Muitas destas mortes ainda são investigadas hoje em dia”, salienta Francisco Queiroz.

O túmulo do barão Joseph James Forrester também não é ignorado, e motiva até algumas gargalhadas. A morte do empresário inglês num naufrágio no Douro foi relembrada com a conhecida peripécia de D. Antónia Adelaide Ferreira, que não se terá afogado por causa das saias-balão que vestia.

Os túmulos são associados a uma cultura que se distingue da portuguesa, desde logo pelo tipo de pedras e a simbologia. A utilização de materiais importados é uma evidência, e símbolos como a pomba ou os carvalhos remetem para a paz e a firmeza perante a morte.

De entre os mais variados nomes nas sepulturas, reinam as mensagens de amor e carinho, que contrastam com a ideia de “abandono” normalmente conotada com os cemitérios britânicos. “Amou e foi amado” e “Um pensamento silencioso, uma lágrima escondida, mantém a tua memória para sempre” são algumas das frases a enquadrar as fotografias nos túmulos.

Da visita guiada fica o convite de que a Igreja de Saint James, apresentada como “uma pérola do Porto” e que este ano celebra o segundo centenário, está à espera de todos.

Texto editado por Sérgio C. Andrade

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