Se a referência evidente do filme é a urgência libertária de uma certa Nouvelle Vague (imagem a preto e branco em formato “quadrado”, câmara muitas vezes à mão, uma narrativa solta e referencial), a verdade é que há mais qualquer coisa a trabalhar em Güeros. A aparente anarquia narrativa do filme é um espelho da própria confusão que vai na cabeça de Tomas, o adolescente-problema, do irmão mais velho Sombra, e do seu companheiro de quarto Santos, que passam dois dias em busca de um músico mítico que tem funcionado como substituto-metáfora da figura paternal.
Mas é precisamente isso, combinado com o humor seco e semi-absurdista que pontua o filme, que torna Güeros num filme muito mais interessante do que a maioria das estreias “de autor” recentes que temos visto: para lá das referências, há uma sensação de vida, de energia, de emoção que não se explica de modo “certinho” e que passa muito melhor através deste aglomerado de episódios que acabam por fazer perfeito sentido juntos. Tem defeitos de primeiro filme, mas é uma estreia promissora.