Vitória? De Tsipras? De Merkel? De Pirro?
O acordo da Grécia para o terceiro resgate pisa muitas ou quase todas as linhas vermelhas do Syriza
Foi um bom acordo? Face a cenários alternativos que chegaram a estar em cima da mesa – como uma saída temporária do país da união monetária durante cinco anos –, o acordo alcançado tem a vantagem de, pelo menos por agora, manter a zona euro intacta. Para a Grécia significa também um cheque de 82 mil a 86 mil milhões e a garantia de que nos próximos três anos não entrará em mais incumprimentos. Alexis Tsipras conseguiu ainda a promessa de uma reestruturação da dívida e um empréstimo-ponte para não falhar mais pagamentos.
Isso significa que estamos perante um bom acordo? Não. A troika repete a receita da austeridade com mais aumentos de impostos e cortes nas pensões, com a agravante de estar a aplicar medidas draconianas numa economia já de si fatigada depois de seis anos de austeridade. Além disso, Tsipras não consegue sequer a bandeira de empurrar o FMI para fora das negociações e terá ainda de transferir para um fundo independente activos gregos no valor de 50 mil milhões, que vão servir para garantir que os credores, pelo menos parcialmente, conseguem reaver o seu empréstimo. É uma grande reviravolta para quem ganhou eleições a prometer acabar com a austeridade e abortar as privatizações.
Tamanha foi a austeridade, e com tão poucas ou nenhumas cedências do lado dos credores, que houve quem tenha vindo falar numa tentativa de humilhar a Grécia. Passos Coelho discorda. Diz que não vê como é que o acordo "possa ser encarado como uma humilhação" e recorda que, entre perdões de dívida e resgates, a Grécia já “recebeu” mais 400 mil milhões de euros. Este número gigantesco que é aqui usado para ilustrar a suposta solidariedade para com a Grécia também pode ter uma segunda leitura. Pode ser a prova de que a estratégica seguida até aqui não resultou. Porquê então insistir nela de uma forma tão dogmática? Venham mais 86 mil milhões.