Férias
Começou o Verão, o tempo tem estado muito bom, os exames estão a terminar, as famílias começam a pensar em férias. E é bom que assim seja, embora nunca possamos esquecer que, para muitos portugueses desempregados ou com pouco dinheiro, a simples ideia de uns dias descansados fora de casa seja uma angustiante impossibilidade.
Nos empregos, os pais (quase sempre as mães) aparecem com os filhos, quando as chefias são compreensíveis e as administrações fecham os olhos. Vemos então crianças e adolescentes mais ou menos contrariados, a transportar fichas de trabalho escolar que raramente utilizam ou a disfarçar a vontade de espreitar o computador do serviço. Alguns fazem desenhos coloridos, experimentam colagens a partir de revistas utilizadas a medo ou brincam com alguém da mesma idade que também não ficou em casa. Os pais vivem com ansiedade esses momentos e o seu próprio desempenho deve ressentir-se, porque o tempo passa devagar, a dividir-se entre tomar conta do filho ou obedecer ao chefe. A colega do lado, que há muitos anos casou com o trabalho e não tem crianças a seu cargo, murmura desabafos críticos com o funcionário divorciado que só vê os filhos aos fins-de-semana e não tem necessidade de os ter por ali: embora sorriam para os mais novos, na verdade não gostam que lá estejam, fazem barulho e mexem no computador, nos clips e nos papéis, quem sabe se foram eles que perderam aquele pequeno recado escrito que a chefe acabou de deixar.
A mim impressiona-me que a única ajuda aos pais sejam os avós. Quando uma criança aparece no emprego da mãe, é porque a avó está doente, ou a relação das três gerações está com problemas. Na maior parte dos casos, os avós ficam com os netos, por isso os vemos juntos nos cafés do bairro ou nas tardes de cinema, por vezes sabemos que vão até à praia ou à piscina, esperemos que em horário de menos calor. Conheci uma avó que passava as tardes a classificar os mergulhos do neto de 12 anos, bem protegida do sol por um grande chapéu de palha. Quando a piscina municipal encerrava, tomavam um refresco à saída e depois jantavam em casa, o rapaz só regressava a casa quando os pais o podiam receber com toda a atenção.
Pergunto: as escolas não poderiam fazer mais? Claro que sim. Não através de aulas, mas a partir de actividades programadas, apelativas para os mais novos e que constituíssem novos encontros entre professores e alunos. Não se justifica que as escolas, sobretudo as do 1.º ciclo, estejam encerradas durante três meses. Se os professores e alunos estão exaustos por uma relação que hoje quase só se organiza à volta do controlo/descontrolo disciplinar, será necessário contratar educadores ou monitores capazes de disponibilizar momentos de convívio no espaço escolar, que possam dar aos alunos novas oportunidades de aprendizagem e de diversão, ao mesmo tempo que os pais estarão menos ansiosos no local de trabalho. Os clubes desportivos também poderiam fazer mais, mas julgo que só o Sporting tem “férias desportivas” para os mais novos.
Para aqueles que possam ter alguns dias de férias em família, é essencial um bom planeamento, sobretudo quando há filhos adolescentes. Defendo a possibilidade de os jovens estarem algum tempo com os amigos sem a presença dos pais, mas sou intransigente na exigência de um período conjunto em família. Quando os pais estão separados, é bom que todos se organizem para que os filhos estejam com os dois progenitores, porque é assim que poderemos cimentar relações mais aprofundadas entre todos.