Varoufakis: "O que estão a fazer com a Grécia tem um nome — terrorismo”

Líderes europeus, mas também os media gregos, continuam a pressionar pelo voto no “sim”. Varoufakis diz que "há demasiado em jogo" para que a Grécia saia do euro e que a União Europeia quer fazer do país um exemplo para Portugal e Espanha.

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Uma responsável eleitoral prepara um dos locais onde se votará o referendo de domingo Alkis Konstantinidis / Reuters

Os comícios de sexta-feira não se podem repetir neste sábado de reflexão, mas as disputas acesas do resto da semana prosseguem. Durante a manhã, multiplicaram-se as declarações dos apoiantes do “sim” e do “não”. Os primeiros alertam para as consequências de uma saída da Grécia do euro, que, dizem, estará em jogo no domingo. Os segundos fazem apelos a que o país bata o pé a uma Europa que, segundo eles, não respeita a democracia.

Yannis Varoufakis estava visivelmente cansado quando falou com o diário espanhol El Mundo em Atenas, na sexta-feira, para uma entrevista publicada neste sábado. “Cansado, mas bem”, assegura o ministro das Finanças grego. 

Segundo Varoufakis, a campanha dos líderes europeus pelo voto no “sim” revela que a União Europeia “não gosta da democracia” e quer fazer da Grécia um “exemplo” para Portugal e Espanha, com eleições legislativas ao virar da esquina. O ministro grego assegura que foi chantageado nas reuniões do Eurogrupo de Junho: “Assinem [o acordo] ou tereis que encerrar os bancos”, disseram-lhe os ministros europeus, segundo o seu relato.   

“O que estão a fazer com a Grécia tem um nome: terrorismo”, disse Varoufakis ao El Mundo, que lhe devolveu a resposta em forma de pergunta. “Pensa verdadeiramente que o que estão a fazer com a Grécia é terrorismo?” “Claro que penso”, respondeu Varoufakis. “Por que é que nos forçaram a encerrar os bancos? Para quê encher as pessoas de medo? E quando se trata de propagar o terror, a esse fenómeno chama-se terrorismo.”

O Governo grego e os apoiantes do voto no “não” no referendo de domingo travam batalhas em várias frentes. Na Europa, os ministros do euro insistem que o que está em causa no referendo é a saída do país da moeda única, mesmo que esta seja temporária, como indicou o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, numa entrevista ao tablóide Bild publicada neste sábado.

“A Grécia é um membro da zona euro. Não há dúvidas sobre isso. Quer esteja no euro ou temporariamente sem ele: apenas os gregos podem responder a esta pergunta”, disse Schäuble. “É claro que não vamos deixar ninguém pendurado”, concluiu o ministro alemão.

Na sua entrevista ao El Mundo, Varoufakis assegura que os bancos gregos abrem na terça-feira, qualquer que seja o resultado do referendo de domingo. Diz que não sabe se o Governo grego se demite caso vença o “sim”, como já disse que seria o seu caso, e está confiante que um voto no “não” vai resultar num acordo “melhor” assinado logo na segunda-feira. Questionado sobre por que razão está tão confiante num acordo, Varoufakis responde que a Europa não se pode dar ao luxo de um Grexit — o termo utilizado para a saída da Grécia do euro.

“Há demasiado em jogo, tanto para a Grécia como para a Europa, por isso estou confiante. Se a Grécia cai, perde-se um bilião [um milhão de milhão] de euros”, diz Varoufakis.

Wolfgang Schäuble discorda, tal como o ministro das Finanças austríaco, Hans Joerg Schelling. “Para a Europa, isto [o Grexit] será fácil de gerir economicamente. Para a Grécia, seria com certeza consideravelmente mais dramático”, disse o ministro austríaco neste sábado, citado pela Reuters. E, segundo Schäuble, as consequências não serão grandes. “Mesmo que haja o colapso de alguns bancos, o risco de contágio é relativamente pequeno.”

A luta nos media
Os apoiantes do “não” travam também uma batalha contra os media nacionais, que tendem a “exagerar os sentimentos de medo e agonia e a criar uma atmosfera que faz com que seja impossível alguém pensar com clareza”, diz Nikos Leandros ao diário norte-americano New York Times. Leandros é especialista em estudos dos media na Universidade Panteion, em Atenas. Garante que o debate está toldado: “Não existe discussão sobre os temas verdadeiros.”

A televisão grega repete espaços publicitários a apelarem ao voto no “sim”, alguns deles “apocalípticos”, como escreve o New York Times. O Governo, por sua vez, tenta contrariar esta tendência aproveitando todo o tempo de antena possível.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro grego acusou as televisões de não terem dado uma cobertura equilibrada às manifestações em favor do voto “Não” e do “Sim”. Segundo os dados de Alexis Tsipras, citados pelo New York Times, os seis canais mais vistos na Grécia deram cerca de “46 minutos” de tempo de antena aos comícios em favor do “sim” e apenas “oito minutos” às concentrações que apelaram ao “não”.    

O editor de media do site noticioso Newpost.gr, Christos Xanthakis, próximo da direita, diz ao diário norte-americano que os órgãos de comunicação gregos estão a ignorar as regras que obrigam a uma igual cobertura dos dois lados no referendo. “Neste momento estão a abordar as misérias da população 24 horas sobre sete dias”, diz Xanthakis. “Se tivessem mostrado este tipo de sensibilidade ao longo dos últimos anos, a Grécia seria agora um país melhor.”

Os três jornais mais vendidos no país apelaram em uníssono ao voto no “sim”. “O ‘não’ significa cortes nos depósitos, bancos e caixas multibanco fechados, racionamento de comida, medicamentos e gás e, no final, o dracma e uma tragédia nacional”, lê-se na capa do jornal semanal mais vendido na Grécia, o tablóide Proto Thema, que foi para as bancas na sexta-feira por antecipação do referendo.  

Os diários Ethnos e To Vima fizeram o mesmo apelo. “Os gregos escolhem a Europa”, anunciava o Ethnos na sua primeira página deste sábado, citado pela Bloomberg, com bandeiras gregas e a europeia em fundo.

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