Enfermeiras fazem 15 quilómetros a pé para cuidar de dois doentes
"Calce os nossos sapatos", pede o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses à população, em protesto contra a falta de motoristas e assistentes operacionais
As enfermeiras decidiram ir a pé a casa dos doentes em situações mais graves, depois de terem deixado, primeiro, de ter o apoio de motoristas e, depois, de assistentes operacionais que desempenhavam a tarefa de condutores, quando fazem visitas domiciliárias, explicou Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que convocou esta forma de protesto e está a acompanhar as profissionais de saúde neste percurso.
A falta de condutores implica que, na prática, as enfermeiras deixem de poder prestar cuidados domiciliários a mais oito pessoas que habitualmente contam com esta ajuda, especifica a dirigente sindical, que frisa que o problema se faz sentir desde há cerca de dois meses, quando o director executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Gerês/Cabreira anunciou "que esta unidade de cuidados continuados não teria mais apoio [de motoristas] para efectuar visitas domiciliárias, situação que não acontece em unidades semelhantes do mesmo ACES".
Esta Unidade de Cuidados na Comunidade dá apoio a todo o Centro de Saúde de Vila Verde, fazendo habitualmente por dia cerca de 10 visitas domiciliárias, diz Guadalupe Simões. A sindicalista frisa que foi “o sentido de responsabilidade das enfermeiras" que as fez tomar a iniciativa de fazer este sacrifício, enquanto o problema não se resolve.
Trata-se de "uma acção de propaganda sindical", retorque o Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, que afirma, em nota, que as enfermeiras" incluídas nesta equipa deslocaram-se a pé aos domicílios, por vontade própria, uma vez que o ACES lhes "disponibilizou uma viatura para o efeito". A ARS acrescenta que já mandou instarar um inquérito para " apurar se a prestação de cuidados de saúde foi colocada em causa".
Com o mote "Calce os nossos sapatos", o SEP pede à população que sinta “nos pés e na pele o que os enfermeiros passam para fazerem os domicílios". Por que razão não conduzem as enfermeiras as viaturas? “Além de esta não ser competência sua, ela correm o risco de ter que pagar multas, como já aconteceu a uma colega recentemente”, explica Guadalupe Simões. A dirigente sindical diz desconhecer as “razões objectivas” que explicam a "retirada do apoio, primeiro, dos motoristas, e, depois, dos assistentes operacionais" às enfermeiras desta unidade específica, mas sugere que poderá “uma eventual tentativa de transferência destes cuidados para a Misericórdia de Vila Verde”. Porquê? "Esta possibilidade existe na lei desde que o Governo fez sair um diploma que diz que as unidades de cuidados continuados passam para a responsabilidade das autarquias que, por sua vez, podem conscessioná-las às misericórdias ou ao sector privado", justifica. O director do ACES Gerês/Cabreira, Jorge Cruz, recusou-se a falar ao PÚBLICO, mas, em finais de Maio, depois de os deputados eleitos pelo círculo de Braga terem denunciado que o centro de saúde de Vila Verde reduzira “abruptamente”o número de domicílios, “passando de 58 viistas semanais para apenas 25”, lamentou que alguns enfermeiros "queiram exigir que o Estado lhes garanta motoristas para o exercício das suas normais funções". Em nota enviada à Lusa, Jorge Cruz afirmava então que, “sempre que possível, “tem sido garantido o acompanhamento de um assistente operacional, com habilitação para condução, particularmente em unidades funcionais com um número reduzido de enfermeiros ou em que os mesmos não detêm tal habilitação".
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