A Geórgia sozinha
De entre as antigas repúblicas soviéticas a Geórgia era das que tinha uma tradição cinematográfica mais rica; este filme, mesmo na sua menoridade, mostra que talvez isso ainda não se tenha perdido.
Os espectadores mais atentos conhecerão os filmes que Otar Iosseliani realizou a partir de temática aproximável, nomeadamente Brigands e esse grande fresco sobre a história antiga e contemporânea da Geórgia que é Seule, Géorgie. Tangerinas não tem nada da complexidade nem do sentido de humor retorcido de Iosseliani. Mas é um pequeno filme inteligente e modesto, ou que faz da modéstia uma forma de inteligência, o suficiente para não deixar cair o registo de fábula humanista (dois combatentes inimigos forçados a conviverem enquanto convalescem) numa modorra enjoativa – há sempre um sentido de gravidade, na relação com a paisagem, na iminência da guerra, para pôr as coisas em sentido, e a verdade é que os actores são, todos eles, óptimos. De entre as antigas repúblicas soviéticas a Geórgia era das que tinha uma tradiçã cinematográfica mais rica; este filme, mesmo na sua menoridade, mostra que talvez isso ainda não se tenha perdido.