Cerca de 90% da produção nacional de framboesa concentra-se na zona de Odemira
A produção de framboesa na região de Odemira atingirá as 7500 toneladas em 2015. Foi a segunda fruta mais exportada em 2014 com um valor 64 de milhões de euros.
O destaque vai para a framboesa, embora o mirtilo esteja a posicionar-se como a produção que se segue na preferência dos consumidores. O morango já deixou de ser a cultura de eleição no litoral alentejano e a amora aguarda por melhor oportunidade.
Em 2014 foram produzidas na região de Odemira 6.000 toneladas de frutos vermelhos e cerca de 5.100 eram framboesas. Para 2015 estima-se que a produção deste fruto atinja as 7.500 toneladas destinadas em cerca de 90% à exportação.
Arnoldo Heeren, director de operações em Portugal do líder mundial dos frutos vermelhos, a empresa americana Driscoll’s, disse ao PÚBLICO que o “clima ameno, entre Sines e Lagos, e abundância de água de grande qualidade” foram os factores que determinaram o investimento numa região que qualifica como a “Califórnia da Europa” e onde já se produz 40% da totalidade de framboesas da Driscoll’s. Contudo, afirma, o mirtilo apresenta-se como a baga com mais potencialidades de crescimento, por oferecer benefícios para a saúde superiores às amoras, framboesas e morangos.
A empresa americana, com várias unidades de produção no zona, é uma das accionistas da Lusomorango, uma sociedade anónima presidida por Arnoldo Heeren, que funciona como “organização de produtores” de bagas no litoral alentejano, nos termos da legislação europeia. De acordo com o seu vice-presidente, Gonçalo Santos Andrade, a facturação da sociedade passou de cinco milhões de euros em 2005, ano em que foi constituída, para 36,8 milhões em 2014.
Santos Andrade realça o peso crescente do sector das frutas, legumes e flores na economia portuguesa, com um volume de vendas que ascende aos 2,3 mil milhões de euros, dos quais 1,1 mil milhões (48%) são para exportação.
Odemira “é uma zona estratégica para os pequenos frutos”, assinala o vice-presidente da empresa, frisando que as explorações concentradas no concelho representam 90% da produção de framboesa nacional. Segundo o empresário, este fruto é já “o segundo mais exportado de Portugal”, com vendas de 64 milhões de euros. A pera rocha mantém a dianteira com 88 milhões de euros.
Neste momento, a quase totalidade da produção de frutos vermelhos ocupa uma área com cerca de 1.100 hectares, concentrados no Perímetro de Rega do Mira. Gil Oliveira, que tem ao seu serviço 340 trabalhadores e gere várias explorações com uma área de 70 hectares, descreveu ao PÚBLICO o sucesso da sua actividade depois de ter enveredado pela produção de framboesa há 9 anos.
“Sou o maior produtor português deste fruto e detenho o record mundial com 24 toneladas por hectare”. Veio do Canadá para produzir morangos, depois batata-doce e milho. “Dentro de três anos terei 90 hectares” a produzir não só framboesa, mas também mirtilo.
“A Driscoll’s [que escoa a produção] quer que plante 80 hectares de mirtilo, mas vou fazer apenas 8 para continuar a manter qualidade A, que significa fruta perfeita.” Gil Oliveira diz ter facturado 4,7 milhões em 2014 e que em 2015, espera chegar aos 6,8 milhões.
Mão-de-obra é o principal problema
O sector dos pequenos frutos vermelhos é uma actividade muito dependente de mão-de-obra. Necessita de cerca de 12 pessoas por hectare. Na sua maioria são búlgaros, mas também se encontram tailandeses, vietnamitas, nepaleses, romenos, brasileiros e naturais do Bangladesh.
“Portugueses não conseguimos arranjar, sobretudo mulheres” refere Gil Oliveira, associando este facto à necessidade de trabalhar aos fins-de-semana por “Ainda não conseguiencontrar um meio para desligar o amadurecimento das framboesas”, ironiza, garantido que se não fizesse a colheita ao sábado e ao domingo perderia muitas toneladas de fruta.
A média da apanha ronda os 4,5 quilos por hora e por pessoa. O empresário adianta que as mulheres búlgaras conseguem recolher entre 6 e 7 quilos, obtendo um salário mensal de “900 a 1000 euros limpos”. Gil Oliveira explica que os salários variam com a quantidade colhida e exemplifica com uma mulher que trabalha consigo há nove anos. Apanha uma média de 8 quilos por hora e recebe cerca de 1400 euros.
“Nas portuguesas, em geral, a média é mais fraca”, sublinha, confirmando que a mão-de-obra é o principal problema do sector. “Contratamos toda a gente que nos aparece e damos formação na apanha e montagem de estufas.”
Arnoldo Heeren acrescenta que a actividade dura o ano inteiro, com algumas oscilações, permitindo a manutenção das pessoas e maior estabilidade na mão-de-obra. “Controlamos o cumprimento de horas extraordinárias de acordo com a legislação, senão eles, por iniciativa própria, trabalhariam mais do que é legalmente permitido.” Gil Oliveira, por seu lado, nota que “mais de metade do rendimento do sector vai para salários”.
Sobre as condições de alojamento dos trabalhadores estrangeiros, Arnoldo Heeren garante que “não admite” as situações degradantes e as máfias”, fazendo “ainda” uma ressalva: “Apesar do nosso modelo de negócio preconizar uma independência do produtor relativamente à gestão do seu negócio, exigimos que ele, enquanto nosso produtor, cumpra com rigor a legislação e que olhe pelo bem-estar dos seus trabalhadores”.