Lisbon South Bay

Preferimos comunicar noutra língua e noutras línguas, às vezes como uma catarse, muitas vezes porque temos fome e já estamos noutro país

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Lisbon South Bay

Desde a passada quinta-feira que a malta da Margem Sul já não mora na Margem Sul. Graças a Deus! Atravessar a ponte todos os dias, passar os fins-de-semana no centro comercial, andar vestido de fato de treino e capuz dos pés à cabeça seja Verão ou Inverno, ser assaltado à terça-feira, viver num “têdois“ em Corroios, andar de autocarro, tudo isso acabou! Porque agora, meus caros, agora, vivemos todos na Lisbon South Bay! Uau! Fantástico! A seguir a isto só falta a cerimónia dos Óscares no Incrível Almadense e está feito, vivemos todos na América!

Sinceramente, na minha lista das dez melhores ideias para baixar as calças a quem nos visita, esta está, indubitavelmente, entre as três primeiras (a seguir aos famigerados West Coast of Portugal e Allgarve, hoje e sempre, de pedra e cal, no topo da lista).

Infelizmente, se há qualidade inerente à estupidez humana é esta impressionante capacidade de nos surpreender, de constantemente se reinventar, assim trazendo, para mal de todos nós, novos mundos ao mundo. Porque a estupidez, associada à ignorância, é o pior dos males, e uma consequência directa da crise humanitária que, ao longo dos últimos quarenta anos, viola Portugal. Sem que de Portugal se ouça um queixume. O resultado prático está à vista: hoje perdemos a nossa identidade, hoje perdemos a nossa língua, hoje perdemos o nosso país, os nossos pais e o nome que nos deram.

Hoje baixamos as calças e não retaliamos, nem tão pouco votamos. Ao invés, preferimos comunicar noutra língua e noutras línguas, às vezes como uma catarse (pode ser que assim, ao sair de casa, já não esteja na Cruz de Pau), muitas vezes porque temos fome e já estamos noutro país. Porque, por alguma razão, na América, aquela que agora nos muda o nome, ainda ninguém se lembrou de mudar o nome de Manhattan para “Miratejo de Nova Iorque", de modo a atrair mais turistas a esta pérola civilizacional tão representativa da nossa muito querida Margem Sul. Assim sendo, e porque os americanos não vão mudar os nomes das suas cidades e das suas pessoas, por que carga de água temos nós de mudar os nossos?

Não, a Margem Sul não é, nem será, a Lisbon South Bay. No mínimo South Bay, por favor, não nos insultem e metam a Lisbon vocês sabem muito bem onde! E já agora, e porque não, “Allmada“? E que tal “Sausage Saucers“ (Paio Pires)? Infelizmente não consigo traduzir Murfacém, senão era essa a próxima...

Meus senhores, somos portugueses, falamos em português e não seguimos o Acordo Ortográfico. Ainda temos orgulho nas nossas origens e não podemos ouvir falar de espanhóis. Por conseguinte, não nos vilipendiem as raízes culturais, as quais são, verdadeiramente, as embaixatrizes de Portugal no mundo e a fonte mais segura de investimento, estrangeiro ou nem por isso, assim garantindo um futuro mais risonho, senão para nós, então para os que cá ficam.

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