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Grécia: FMI e UE não deixarão que o país funcione

FMI e UE estão determinados a manter o Sul da Europa sob o saque de uma finança desregulada, que tem como objectivo engolir todos os bens públicos e a fazer retroceder as políticas sociais e laborais ao séc. XIX

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Yannis Behrakis/Reuters

O referendo de 5 de Julho na Grécia é decisivo para a Europa. O povo grego deverá decidir o que lhe diz directamente respeito: as medidas concretas que determinarão o seu futuro individual e colectivo. Há décadas que na Europa os povos raramente são chamados a participar em assuntos importantes e têm a possibilidade de dizer não aos caminhos anti-populares, anti-sociais e autoritários. Que digam aquilo que tantos dizemos por essa Europa fora: Não!

É difícil para burocratas e políticos do "status quo" aceitar que um povo seja chamado a pronunciar-se e a decidir. Os gregos podem até ceder à chantagem da política de medo e ameaças de expulsão do Euro e da União Europeia, mas nem por isso a decisão de convocar o referendo, neste momento, deixará de ser histórica.

O Governo Syriza foi eleito com um programa eleitoral ambicioso que atirava para a superação das dificuldades. Foi ambição demais propor uma política anti-austeridade, que permitisse que o país se pusesse de pé numa União Europeia e numa moeda única que parecem servir o objectivo único de fazer a riqueza fluir no sentido do centro da Europa. As negociações entre a Grécia e a troika deixaram tudo claro: FMI e UE não deixarão que o país funcione e estão determinados a manter o Sul da Europa sob o saque de uma finança desregulada, que tem como objectivo engolir todos os bens públicos e a fazer retroceder as políticas sociais e laborais ao séc. XIX.

Perante o impasse de ter que aceitar uma política de austeridade contrária ao seu programa eleitoral ou arriscar ser expulso da União Europeia e do euro (que não fez parte do seu programa), os ministros do Syriza convocaram um referendo que lhes permite esclarecer inequivocamente qual a decisão do povo. É complicado para Passos Coelho, Rajoy, Renzi, Lagarde, Draghi ou Juncker pensar que uma decisão tão importante possa ser tomada pelas gregas e pelos gregos e não por si mesmos, entre cafés, conversas de corredores e conferências de imprensa em que são estrelas e decisores absolutos.

A história dos referendos

A história dos referendos na construção europeia revela o seu desrespeito pela decisão popular: em 1992 a Dinamarca referendou o Tratado de Maastricht, que foi rejeitado. Em 1993 foi re-referendado e ganhou o sim, levando a motins. O Tratado Constitucional foi referendado e chumbado na França e na Holanda em 2005, e na Irlanda em 2008. A Irlanda repetiu o referendo até ser aprovado. A UE não aceita a voz popular e, por isso, é que já começou o grande ataque à Grécia, recusando a extensão do programa até dia 5, tentando impor uma decisão antes que o povo se pronuncie.

Muitos dirão que o que devia estar na pergunta do referendo é a saída do euro, da UE e as dificuldades pela frente. Mas a alternativa é a permanência no euro, na UE e a contínua degradação social, colectiva e individual de um país e a recusa total da decisão democrática. Mas estes foram os termos decididos pela troika. Trabalhadores, precárias, desempregados, pensionistas, os credores da crise europeia, que pagaram o resgate da finança e da banca e que se transformou em dívida pública, deviam ser chamados a pronunciar-se em toda a Europa sobre a austeridade e o futuro de miséria que é imposto para, em conjunto com o povo grego, poderem dizer: Oxi! Oxi! Oxi!

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