O FMI é o mau da fita?

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Christine Lagarde Reuters

As divergências não são lineares. Enquanto Berlim resiste a uma segunda reestruturação da dívida grega antes de ver as reformas aprovadas em Atenas, o Fundo considera urgente a redução da dívida de forma a torná-la “viável”.

Foi a Alemanha quem, em 2010, exigiu a participação do FMI, contra a opinião da França e do Banco Central Europeu, então dirigido por Jean-Claude Trichet, que defendiam a resolução da questão grega num quadro europeu. Uma das razões de Merkel terá sido utilizar a severidade das regras do FMI para forçar Atenas a fazer reformas. Outra teria sido diluir a contribuição financeira dos europeus aos olhos dos eleitores.

Esta “parceria” levantou problemas ao FMI porque a Grécia, fazendo parte da União Monetária, não podia desvalorizar a moeda. O Fundo, então dirigido por Dominique Strauss-Kahn, abriu “uma isenção sistémica” para intervir e evitar o contágio a outros países do euro. Além de se preocupar com o euro e com a Europa, Strauss-Kahn era um virtual candidato à presidência francesa.

Os críticos de Christine Lagarde, a actual directora-geral, frisam que o seu mandato expira em 2016 e ela quer ser reeleita. Está sob vivas pressões dos países emergentes no Conselho de Governadores, que criticam as condições concedidas à Grécia, um país que, se comparado com muitos outros, pode ser considerado rico. “O estatuto de favor dado à Grécia alimenta a frustração dos países emergentes que o consideram injusto”, diz Desmond Lachman, antigo quadro do Fundo na Europa.

Atenas contra o Fundo
O FMI teme também os riscos de um fiasco grego para a sua credibilidade. De resto, conhece a sua fama de “polícia mau” e não aprecia que Alexis Tsipras denuncie a “responsabilidade criminosa” do FMI.

A lógica do Fundo foi explicada pelo seu economista-chefe, Olivier Blanchard. Insistindo na redução da dívida grega, é intransigente nas reformas. Escreveu: “Pelo jogo democrático, os cidadãos gregos fizeram saber que não queriam certas reformas. Nós pensamos que elas são necessárias e que sem elas a Grécia não conseguirá assegurar um crescimento duradouro, arriscando-se a endividar-se mais.”

Por que insiste nas pensões, uma das “linhas vermelhas” de Tsipras? “[Pensões] e salários representam cerca de 75% das despesas primárias; as restantes 25% já foram reduzidas à ínfima expressão. As pensões representam mais de 16% do PIB e as transferências do orçamento para o sistema de pensões estão próximas de 10% do PIB.” Propõe salvaguardas “para os reformados mais vulneráveis”. E insiste numa reforma fiscal e no aumento do IVA.

Sendo o FMI o defensor de uma das medidas mais reclamadas pela Grécia – a redução da dívida –  por que é que o Governo grego quer encontrar “uma solução sem a participação do FMI” que, segundo o ministro de Estado Nikos Pappas, “tem uma agenda unilateral e de nenhuma forma europeia”? Responde o jornalista italiano Vittorio Da Rold: Tsipras quer fazer passar o seu plano no Parlamento grego e, sobretudo, quer preservar a base eleitoral do Syriza – funcionários públicos, assalariados do privado e pensionistas.

Voltando à mesa das negociações. Vai manter-se o braço-de-ferro entre europeus e FMI? Diz à AFP um antigo director executivo do FMI: “A instituição tem poucas escolhas, a dias do fim do prazo para Atenas reembolsar o Fundo. O FMI quer intensificar a pressão sobre os europeus. Aproxima-se o fim do jogo e cada um está a queimar os últimos cartuchos.”

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