Neandertal e homem moderno da Europa cruzaram-se há 40.000 anos

Um homem que viveu na Roménia há cerca de 40.000 anos tinha entre seis e 9% do genoma do Neandertal. Cientistas calculam que houve um antepassado muito recente dos nossos primos extintos.

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A mandíbula de Oase 1, encontrada em 2002, numa gruta na Roménia Svante Pääbo

Os paleontólogos continuam a tentar reconstruir o caminho feito pela espécie humana desde a sua génese. Os humanos anatomicamente modernos surgiram há menos de 200.000 anos em África. Depois, há menos de 100.000 anos, iniciaram uma migração, colonizando toda a Terra. Mas centenas de milhares de anos antes, populações de espécies antepassadas dos humanos modernos já tinham saído de África e chegado à Europa e à Ásia, onde se instalaram e evoluíram, formando ramos separados da árvore do género Homo.

Um desses casos foi o Neandertal, que apareceu há menos de 300.000 anos, algures na Europa e na Ásia Ocidental, e floresceu aí durante centenas de milhares de anos. Os motivos para o seu desaparecimento continuam envoltos em mistério, mas parece haver uma sobreposição temporal entre a chegada do homem moderno à Europa e a extinção do Neandertal.

Durante muito tempo, questionou-se se estes dois grupos humanos tinham tido contacto entre si, se houve cruzamentos e descendência entre as duas espécies. Em 2010, o assunto da descendência ficou arrumado. Os genomas das duas espécies mostravam que todas as populações actuais humanas, menos as de origem africana, têm entre um e 3% do genoma do Neandertal.

Por isso, depois dos nossos antepassados saírem de África, encontraram-se e cruzaram-se com populações do Neandertal.

Mas não se sabe quando e como é que os cruzamentos ocorreram. Os dados genéticos indicam que as populações do Leste da Ásia e as populações nativas da América partilham mais material genético com os Neandertais do que os europeus. Isto sugere que os cruzamentos entre os dois grupos humanos ocorreram logo à saída de África ou no Médio Oriente, apesar dos últimos dias do Neandertal terem sido na Europa.

A descoberta feita agora vem contrariar esta ideia. Uma equipa internacional de investigadores analisou o genoma contido numa mandíbula de Oase 1, o nome dado ao fóssil de um homem moderno encontrado em 2002, em Pestera cu Oase, um sistema de grutas perto da cidade de Anina, no Oeste da Roménia.

Oase 1 viveu há cerca de 40.000 anos. Apesar da forma da mandíbula ter muitas características dos humanos modernos, tem também alguns traços dos Neandertais.

Os cientistas concluíram que estes traços têm uma base genética, já que entre seis e 9% do seu genoma é igual ao do Neandertal.

“Mostrámos que um dos primeiros homens modernos conhecidos na Europa tinha um antepassado Neandertal que remonta apenas à quarta, à quinta ou à sexta geração na sua árvore genealógica”, disse Svante Pääb, geneticista do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva, em Leipzig, na Alemanha, e um dos autores que lideraram o estudo. “Ele traz mais ADN Neandertal do que qualquer outro humano moderno actual ou antigo até à data”, disse, citado pela agência Reuters.

Segundo o artigo, esta descoberta mostra que o cruzamento entre humanos modernos e Neandertais não aconteceu só no Médio Oriente, mas houve cruzamentos mais tarde, na Europa.

Os cientistas obtiveram estes resultados depois de fazerem a sequenciação do genoma de Oase 1 e o compararem com o do Neandertal. O homem moderno tinha três longos pedaços de ADN que são dos nossos primos, permitindo estimar que o seu antepassado Neandertal seria bastante recente, teria vivido 100 a 150 anos antes de Oase 1.

No entanto, quando compararam o genoma do Oase 1 com o dos europeus actuais, perceberam que aquele humano não terá deixado descendentes actuais.

“A ausência de uma relação clara do indivíduo Oase 1 com os mais recentes humanos modernos da Europa sugere que poderá ter havido um membro de uma população inicial dos primeiros humanos que se cruzou com um Neandertal, mas que não contribuiu muito para as populações europeias mais tardias”, explica o artigo.

Para David Reich, investigador do Departamento de Genética da Escola Médica de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos, que co-liderou o estudo, esta informação é importante para compreender os fluxos migratórios na Europa. “Isto é interessante porque mostra que a Europa não foi continuamente ocupada pelas mesmas linhagens desde a primeira migração dos humanos modernos que chegaram à Europa”, explicou, citado pela Reuters.

Os próximos passos para compreender melhor a história entre os humanos modernos e os Neandertais é, segundo o artigo, o estudo do genoma de outros fósseis dos nossos antepassados que tenham traços morfológicos semelhantes aos dos nossos primos desaparecidos. 

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